Se o aquecimento global é um fenômeno evidente e suas consequências nocivas devem se fazer presentes daqui a poucos anos, vale a pena pôr filho no mundo? A cantora inglesa Blythe Pepino, de 33 anos, decidiu que não, e quer convencer outros jovens disso. Para tanto, criou no começo do ano a comunidade BirthStrike (greve de nascimentos, em português), segundo ela um “centro de informações” para “facilitar o ingresso de ativistas” na causa. “Assim que conheci meu companheiro, Joshua, em 2017, soube que era alguém com quem poderia formar uma família”, contou Blythe a VEJA. “Mas depois percebi que não tenho coragem de fazer isso.”
A cantora mudou de ideia após a divulgação, no ano passado, de um relatório da ONU sobre o aquecimento do planeta para limitar o aumento da temperatura da Terra em no máximo 1,5 grau até 2030, evitando drásticos efeitos. Aí nasceu o BirthStrike, que, explica Blythe, “não é um movimento político nem uma escolha de vida como a dos grupos antinatalidade, que consideram moralmente errado procriar em um mundo sem sentido”. A iniciativa — que começa a atrair milhares de seguidores nas redes sociais — é filha de um coletivo fundado em 2015 nos EUA, o Conceivable Future, que se espalha por dezesseis estados.
Trata-se de uma onda que, naturalmente, vai criando outros círculos. As “grevistas” participam ativamente do Extinction Rebellion, uma campanha de desobediência civil em prol do meio ambiente. No mês passado, ativistas fizeram correr um “rio de sangue” (de mentira, claro) em Downing Street, em Londres, onde fica o gabinete da primeira-ministra Theresa May. A campanha espalha-se por mais capitais e tem o apoio explícito de Greta Thunberg, sueca de 16 anos que foi a primeira a mobilizar estudantes pela causa das mudanças climáticas — hoje a preocupação número 1 dos jovens na Europa. “Nota-se entre eles um amadurecimento ecológico estimulado pelo fato de as mudanças impactarem diretamente suas vidas”, afirma o canadense Robert Gifford, especialista em ativismo ambiental da Universidade de Victoria. Nos Estados Unidos, onde a questão permanece em segundo plano, a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, ambientalista radical, deu uma força aos militantes do BirthStrike: a inação dos governos “leva os jovens a fazer uma pergunta legítima: é viável ter filhos?”, tuitou ela. O tempo — e o clima — dirá.
Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641
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