Conselho de Segurança da ONU deve rejeitar reunião pedida por Moscou
Encontro extraordinário teria objetivo de discutir o que Kremlin alega ser uma falsificação para imputar aos russos crimes de guerra
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas deve rejeitar um pedido feito pela Rússia para uma reunião com objetivo de discutir o que o Kremlin alega ser uma falsificação para imputar aos russos crimes de guerra. O pedido segue a descoberta de dezenas de corpos nas ruas de Bucha, ao norte de Kiev, após a retirada das tropas de Moscou.
“Tendo em vista a provocação hedionda de radicais ucranianos em Bucha, a Rússia solicitou um encontro com Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira, 4 de abril”, disse Dmitry Polyanskiy, vice-embaixador russo para a ONU, em publicação nas redes sociais no domingo.
Segundo a missão do Reino Unido na ONU, que ocupa a chefia do Conselho de Segurança até abril, não haverá reunião extraordinária nesta segunda-feira, 4, como quer o Kremlin. O encontro acontecerá na terça-feira, 5, como já estava previsto, e deve discutir justamente a descoberta dos cadáveres.
Como a Rússia tem assento permanente no Conselho de Segurança, o país deve vetar qualquer resolução que condenaria Moscou.
Nesta segunda-feira, o governo da Rússia negou as acusações de que as tropas do país cometeram um massacre de civis na cidade de Bucha, localizada no norte de Kiev. “Rechaçamos, de forma categórica, todas as acusações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em entrevista coletiva concedida diariamente.
Durante sua fala, Peskov ainda fez um apelo para que o assunto seja discutido “no nível mais alto”, afirmando que, por isso, foi solicitada uma nova reunião do Conselho de Segurança da ONU.
“Nossos diplomatas continuarão os esforços ativos para que o assunto apareça na agenda do Conselho de Segurança”, afirmou Peskov.
O porta-voz do Kremlin pediu aos líderes internacionais que “não se apressem com declarações condenatórias e peçam informação de várias fontes” e instou que, “no mínimo, escutem nossa argumentação”.
A Procuradoria Geral da Ucrânia divulgou neste domingo que 410 corpos foram encontrados nas ruas dos subúrbios do norte de Kiev, após a retirada das tropas de Moscou. Segundo o governo ucraniano e de acordo com imagens difundidas por veículos internacionais, os corpos apresentavam sinais de terem sido sumariamente executados. As vítimas estariam trajando roupas civis e muitas estavam com as mãos atadas.
O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, disse, em entrevista à Reuters, que as forças russas estupraram, mataram e atiraram contra civis. Ele defendeu que “novos Julgamentos de Nuremberg” sejam realizados – em referência aos tribunais que condenaram crimes nazistas na Segunda Guerra Mundial.
“Esta não é uma operação especial, não são ações policiais” disse. “São racistas, fascistas, e são desumanos, que simplesmente cometeram crimes contra civis, estupraram, mataram, atiraram na nuca. O mundo inteiro precisa saber disso.”
A Rússia sustenta que, em 31 de março, o prefeito de Bucha confirmou, em mensagem de vídeo, que já não havia soldados russos na cidade, “mas, não mencionou em nenhum momento, que havia moradores locais baleados nas ruas com as mãos amarradas”.
A Alemanha e o Reino Unido clamam para que Vladimir Putin, o presidente russo, seja julgado por ter cometido crimes de guerra e dizem que aumentarão as represálias a Moscou após o massacre em Bucha. “Os desprezíveis ataques da Rússia contra civis inocentes em Irpin e Bucha são mais uma prova de que Putin e seu exército estão cometendo crimes de guerra na Ucrânia”, afirmou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em um comunicado. As denúncias contra Putin deverão ser levadas ao Tribunal Internacional de Haia, corte responsável por julgar violações e crimes cometidos em conflitos no mundo inteiro.