Em depoimento à Promotoria de Justiça de Buenos Aires, o contador Víctor Mazanares detalhou o esquema de envio de sacolas com dinheiro de corrupção, no avião presidencial Tango 1, à residência de Néstor e Cristina Kirchner em Río Gallegos, na província de Santa Cruz. Manzanares assinou um acordo de delação premiada e se tornou colaborador da investigação do escândalo “Caderno das Propinas”.
O depoimento do contador da família Kirchner complica a situação da ex-presidente da Argentina e senadora Cristina, investigada como chefe do esquema de corrupção que envolvia construtoras e os colaboradores de seu governo, entre os quais o ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido. Ela deverá depor pela segunda vez, no próximo dia 25, ao juiz Claudio Bonadío, responsável pelo inquérito do “Caderno das Propinas”.
Segundo o jornal Clarín, Manzanares afirmou ao promotor Carlos Stornelli que as operações de lavagem desse dinheiro no exterior movimentou 53,2 milhões de dólares, que proporcionaram a compra de 16 imóveis nos Estados Unidos e a criação de 15 empresas imobiliárias.
O esquema de transporte do dinheiro envolvia Carlos Muñoz, secretário particular de Néstor Kirchner, presidente da Argentina entre 2003 e 2007. Muñoz recebia as sacolas e malas de dinheiro e viajava em aviões oficiais, especialmente no presidencial Tango 1, para Río Gallegos e El Calafate. Nesta última cidade, o dinheiro era entregue ao jardineiro dos Kirchner, Ricardo Barreiro.
As sacolas seguiam para uma das casas do casal Kirchner. Em Río Gallegos, no imóvel localizado na esquina da Rua 25 de Março, conforme depôs Manzanares. A casa foi alvo de busca e apreensão no ano passado, como parte das investigações chamadas de “Rota do Dinheiro de K”. Foi encontrada completamente vazia. Cristina Kirchner mantém outra casa para suas visitas, na Rua Mascarello, e sua sogra continua vivendo em na esquina das ruas Maipú e 25 de Maio.
Aos 65 anos, Cristina Kirchner é a figura mais popular de uma fragmentada oposição argentina e possível candidata às eleições presidenciais de outubro. Como senadora, ela tem de foro parlamentar, que a protege de uma prisão preventiva.
No total, Cristina enfrenta seis casos por delitos como lavagem de dinheiro, administração fraudulenta, acobertamento e associação ilícita. Ela se diz perseguida política e, em todos os seus depoimentos, preferiu entregar seus argumentos em forma de texto escrito.
O caso dos “cadernos das propinas” eclodiu com o depoimento do ex-motorista Oscar Centeno, que teria realizado várias das viagens para entrega de dinheiro ilícito entre 2005 e 2015. Entre os locais de entrega estavam a Casa Rosada, a sede do governo argentina, e a Quinta de Olivos, a residência presidencial.
Centeno, que trabalhou para o então vice-ministro de Planejamento, Roberto Baratta, entregou à Justiça um detalhado caderno no qual registrara os percursos feitos durante dez anos para a entrega de sacolas com milhões de dólares. Desde o início do processo judicial, 20 empresários e oito ex-funcionários kirchneristas foram condenados à prisão.