O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um passo além em sua briga contra os meios de comunicação tradicionais ao lançar no Facebook um boletim semanal de notícias que os seus críticos compararam com os produtos de propaganda em países autoritários. “Estas são as notícias reais” é o slogan do programa, financiado pela campanha de reeleição de Trump, que neste domingo transmitiu seu segundo capítulo na página pessoal do governante na rede social.
Durante os últimos meses, Trump tentou minar a confiança dos americanos nos meios de comunicação, que acusa de divulgarem “Fake News” (notícias falsas), e buscou compensar o que ele acusa de ser uma campanha da imprensa contra ele com suas publicações no Twitter. Convencido de que os jornalistas não lhe dão o crédito que merece, o presidente costuma chamar a atenção em seus tuítes sobre os temas que, em seu julgamento, não receberam uma cobertura midiática suficientemente favorável.
A nova série de “notícias reais” é apresentada como uma alternativa à informação que os eleitores consomem por televisão ou internet – normalmente contendo críticas ou questionamentos à política de Trump. “Aposto que vocês não souberam de tudo o que o presidente conquistou nesta semana, porque há muitas notícias falsas aí fora”, disse a nora do presidente, Lara Trump, no primeiro vídeo da série, divulgado no dia 30 de julho.
A esposa do terceiro filho do governante, Eric, citou bons dados econômicos do país, os contatos do presidente com veteranos de guerra e a divulgou a decisão de Trump de doar o salário do segundo trimestre ao Departamento de Educação. “Este é um presidente que está pondo os Estados Unidos na frente de si mesmo. Estou tão orgulhosa disso”, afirmou Lara Trump.
No segundo boletim, publicado neste domingo, uma ex-comentarista da emissora de televisão CNN, Kayleigh McEnany, substituiu a nora do governante. “O presidente Trump claramente devolveu a economia à direção adequada”, disse no vídeo McEnany, que atribuiu diretamente às políticas do governante os bons dados de criação de emprego e confiança dos consumidores em julho.
McEnany, que nesta segunda-feira foi nomeada a nova porta-voz do Comitê Nacional Republicano, destacou também o respaldo de Trump a um projeto de lei para diminuir a imigração legal aos Estados Unidos, algo que definiu como uma decisão de “dar prioridade ao trabalhador americano”.
Usar as redes sociais para divulgar diretamente mensagens políticas não é uma prática nova nos Estados Unidos e a Casa Branca do ex-presidente Barack Obama costumava produzir vídeos que resumiam as atividades de cada semana e eram transmitidas em distintas plataformas. O que preocupou vários analistas é o uso do termo “notícias reais” para promover o esforço propagandístico, em contraste com o rótulo de “falsos” que Trump aplica regularmente aos principais jornais e canais de televisão do país.
“O que fazem é acentuar o positivo, mas para ter uma ideia mais completa das coisas é preciso recorrer aos meios de comunicação livres”, disse à emissora NBC o professor de política na Universidade de Columbia, Robert Shapiro. Nesse sentido, o uso da marca “notícias reais” para descrever os vídeos “lembra à Alemanha nazista”, opinou Shapiro.
No mesmo sentido, Michael McFaul, que foi embaixador americano na Rússia entre 2012 e 2014, escreveu recentemente no Twitter que o boletim de notícias de Trump lembra “de forma horrível vários canais de notícias de propriedade do Estado” que viu “em outros países”.
No ano passado, a campanha de Trump já flertou com a ideia de lançar o seu próprio canal de televisão se o magnata perdesse as eleições e alguns viram na nova série, que por enquanto tem uma audiência muito limitada, o embrião de uma possível nova empresa.
(com EFE)