A Polícia Federal localizou na quarta-feira, 15, remanescentes humanos na área de buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos desde o dia 5 na terra indígena Vale do Javari, no Amazonas. A informação foi confirmada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, e pela Polícia Federal.
Os remanescentes encontrados foram encaminhados para identificação nesta quinta-feira e duas pessoas estão presas por suspeita de participação no assassinato. O pescador Amarildo Oliveira, conhecido como Pelado, foi detido no dia 7 e o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, o Dos Santos, foi preso na terça-feira, 14. Segundo a PF, Pelado confessou o crime na noite de terça e se comprometeu a levar os policiais ao local onde enterrou os corpos. A polícia ainda tenta comprovar as circunstâncias e a motivação do crime, mas o pescador alega que eles foram mortos a tiros.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar profundamente preocupado com os desaparecimentos e que seu governo está trabalhando com autoridades brasileiras.
“Como todos nesta Câmara (dos Comuns), estamos profundamente preocupados com o que pode ter acontecido com ele. Funcionários do Ministério de Relações Internacionais estão trabalhando em estreita colaboração com as autoridades brasileiras”, disse Johnson aos legisladores.
O caso recebeu grande destaque na imprensa internacional, incluindo em veículos para os quais Dom Phillips colaborava. Veja abaixo algumas das manchetes.
The Guardian
O jornal inglês, para o qual Phillips colaborava, publicou reportagem sobre homenagens feitas por colegas e parentes, que pediram que o ativismo dos dois sirva como inspiração para outros. “Coração despedaçado: familiares prestam homenagem a Dom Phillips e Bruno Pereira”, diz o título.
Além de comunicados de autoridades brasileiras e declarações das famílias, o jornal conversou com Pat Venditti, diretor-executivo do Greenpeace no Reino Unido, que elogiou os dois como “homens corajosos, determinados e apaixonados pelo que faziam”.
Segundo ele, ambos foram “assassinados enquanto faziam o trabalho vital de colocar luz sobre as ameaças diárias que povos indígenas no Brasil sofrem enquanto defendem suas terras e seus direitos”.
Reuters
Com repórteres em Atalaia do Norte, a agência de notícias Reuters relatou que “a notícia marca um conclusão sombria de um caso que soou um alarme global, pairando sobre o presidente Jair Bolsonaro durante uma cúpula regional e criando preocupação no Parlamento britânico”.
“Bolsonaro, que uma vez enfrentou duras perguntas de Phillips em uma entrevista à imprensa por conta do enfraquecimento da aplicação da lei ambiental, disse na semana passada que os dois ‘estavam em uma aventura que não é recomendada'”, diz o texto.
Le Figaro
“Brasil: um suspeito diz que enterrou os corpos dos dois desaparecidos na Amazônia”, diz o veículo francês.
“O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, que é a favor da mineração e da agricultura de reservas indígenas na Amazônia, foi duramente criticado por chamar a expedição dos dois homens de ‘aventura’ “, afirma o texto, citando também uma entrevista concedida pelo presidente ao canal da jornalista Leda Nagle, na qual diz que o jornalista britânico “deveria ter redobrado os cuidados”.
The New York Times
“Homem confessa assassinato de jornalista e ativista e leva polícia aos restos mortais, diz polícia”, escreve o americano The New York Times. O jornal destaca que “os desaparecimentos são um capítulo particularmente obscuro na recente história sangrenta da Amazônia”.
“O Sr. Phillips dedicou boa parte de sua carreira para contar histórias do conflito que devastou a floresta, enquanto o Sr. Pereira passou anos tentando proteger tribos indígenas e o meio ambiente. Agora parece que o trabalho foi mortal para eles, sinalizando até onde as pessoas vão para explorar a floresta ilegalmente”.
BBC
A BBC, corporação pública britânica de rádio e TV, deu destaque em sua página principal para o caso. No texto, Katy Watson, correspondente para a América do Sul, cita as críticas de que não houve mobilização rápida o suficiente das autoridades em torno do caso e a falta de gratidão aos grupos indígenas que avançaram nas buscas e ajudaram a levar as autoridades a alguns pertences encontrados na água.
El País
“Pescador confessa assassinato de Dom Philips e Bruno Pereira na Amazônia brasileira”, diz o espanhol El País, em reportagem destacada na página inicial de seu site.
“Os veteranos da Amazônia não lembram de assassinato de nenhum outro jornalista dedicado à cobertura de questões ambientais na selva tropical, muito menos estrangeiro. As mortes violentas de líderes indígenas e ativistas não são novidade”, escreve Naiara Galarraga Gortázar, correspondente no Brasil.
Clarín
“Apaixonado pela Amazônia, sobre a qual escreveu dezenas de reportagens, o jornalista britânico estava na região há dias trabalhando em um livro sobre conservação ambiental e desenvolvimento local”, descreve o jornal argentino Clarín em reportagem. Bruno por sua vez, “era um especialista da agência governamental de assuntos indígenas e reconhecido defensor dos direitos dessas comunidades”.