Coreia do Norte explode escritório de relações com o sul: veja vídeo
Aumento da tensão na fronteira entre os dois países é decorrente da interrupção das conversas promovida pelo regime ditatorial de Kim Jong-un
A Coreia do Norte explodiu, na tarde dessa terça-feira, 16, o escritório de relações com o Sul, na cidade fronteiriça de Kaesong. O ato foi anunciado oficialmente pelo Ministério da Unificação, órgão sul coreano que trabalha pela reunificação das Coreias. O escritório foi inaugurado em setembro de 2018 e tinha por objetivo intensificar a interlocução entre os dois países.
Veja abaixo o momento em que a explosão ocorreu:
North Korea blew up an office set up to foster better ties with South Korea in a ‘terrific explosion’ after expressing anger at defectors sending what it called propaganda from the South https://t.co/9jtZOhHyIW pic.twitter.com/LafBUDGHI5
— Reuters (@Reuters) June 16, 2020
No fim de semana passado, Kim Yo-jong, irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un, fez ameaças contra o local: “Dentro de pouco tempo, o inútil escritório de relações entre o Norte e o Sul será completamente destruído”, afirmou. Pyongyang que já havia anunciado o fim das interlocuções politicas e militares com a Coreia do Sul, a quem trata por “inimigo”.
O escritório chegou a abrigar funcionários e foi a sede de diversas reuniões e tentativas de reconciliação entre os dois países, até que a Coreia do Norte decidiu retirar seus funcionários, depois que o segundo encontro entre Kim Jong-un e o presidente americano, Donald Trump fracassou.
Desde o início do mês, a ditadura do norte tem dado diversas declarações condenando desertores que se refugiaram no sul e lançam panfletos criticando o regime por suas ameaças nucleares e desrespeito aos direitos humanos. O material de propaganda cruza a fronteira por meio de balões, ou garrafas, na zona desmilitarizada entre os dois países (DMZ).
Em resposta, o governo de Seul iniciou processos judiciais contra dois grupos de dissidentes acusados de organizar o envio dos panfletos. Na segunda-feira, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, idealizador da aproximação de 2018, arriscou um último movimento: pediu ao Norte que “não deixe fechar a janela do diálogo”, mas a declaração não foi suficiente para acalmar os ânimos. Em uma nova escalada verbal, nesta terça-feira, a imprensa norte-coreana afirmou que o Exército do país está “totalmente preparado” para atuar contra a Coreia do Sul.
Alguns analistas acreditam, no entanto, que há outros motivos para o aumento da tensão. Para o diretor do Centro de Estudos Norte-Coreanos do Instituto Sejong, de Seul, Cheong Seong-chang, Pyongyang tenta provocar uma crise com Seul no momento em que as negociações sobre seu programa nuclear estão paralisadas. ” A Coreia do Norte está frustrada com o fato de que o Sul não propõe um plano alternativo para retomar as negociações entre Estados Unidos e o Norte e chegou à conclusão de que o Sul fracassou como mediador no processo”, diz.
Van Jackson, autor do livro “Na borda: Trump, Kim, e a ameaça da guerra nuclear”, chama atenção para a influência da intervenção americana na região. Donald Trump tentou aproximação com Kim Jong-un. Embora os encontros entre os dois presidentes tenham sido altamente alardeados como o início do fim do programa nuclear norte coreano, eles trouxeram poucos resultados práticos. “A Coreia do Norte se sente traída por Trump. Kim entrou nas negociações acreditando em um relaxamento das sanções econômicas contra seu país, mas não obteve nada “, declarou Van Jackson em uma entrevista para a BBC.
Outro fator dominante para a ação seria a entrada de Kim Yo-jong no cenário. Segundo analistas, a irmã do mandatário coreano precisaria mostrar força política e aparecer como uma possível substituta para o cargo, no momento em que se especula sobre o estado de saúde de Kim Jong-un. Embora a Coreia do Norte alegue que não há nenhum caso de Covid-19 no páis, o próprio presidente é suspeito de ter contraído a doença.
Tecnicamente, as Coréias do Norte e do Sul estão em guerra, desde 1953, quando a guerra que separou os dois países terminou com um armistício e não com um acordo de paz.
(Com AFP)