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Covid-19: América Latina adota quarentena e Brasil torna-se mau exemplo

Países como Argentina e Paraguai conseguiram 'achatar a curva' do coronavírus com quarentenas restritas; Brasil é onde o vírus se propaga mais rápido

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h47 - Publicado em 30 abr 2020, 18h10
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  • O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, anunciou nesta quarta-feira 29 que o país não tem mais pacientes do novo coronavírus em unidades de terapia intensiva. No total, o Paraguai totaliza 239 infectados e nove mortos pela Covid-19, doença causada pelo vírus. Abdo afirmou que o controle dos casos foi possível devido à quarentena obrigatória adotada em 10 de março, apenas três dias após o registro do primeiro caso de contaminação no país.

    A decisão de paralisar as atividades não essenciais, permitindo saídas das pessoas pelas ruas só para ir a mercados, farmácias e bancos, ocorreu “antes mesmo de as medidas restritivas serem recomendadas pela Organização Mundial de Saúde [OMS]“. A nação seguiu a lógica da prevenção diante da incapacidade de seu sistema de saúde aguentar o tranco da epidemia que se avistava.

    O Paraguai, assim como alguns outros países da América Latina, parecem contabilizar sucesso na luta contra o coronavírus – especialmente quando se compara com a maior economia da região, o Brasil

    Na Argentina, onde há 4.285 casos confirmados e 214 mortes nesta quinta-feira, os dados diários divulgados pelo Ministério da Saúde brasileiro viraram motivo de chacota nas redes sociais, onde servem como exemplo negativo. No Brasil, acumulam-se mais de 80.000 casos e 5.540 mortes. “O que um ‘lockdown’ não faz né?”, questionam argentinos no Twitter.

    Não à toa, o jornal The Washington Post indicou o presidente Jair Bolsonaro como pior líder mundial a comandar a reação à pandemia do novo coronavírus, por sua resistência às medidas de isolamento e seu exemplo pessoal de sair às ruas e cumprimentar seus apoiadores.

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    A mensagem do governo de Alberto Fernández, da Argentina, para que as pessoas fiquem em casa tem sido mantida desde 19 de março e vai se estender até, pelo menos 10 de maio. O temor de uma nova onda de contaminações pode levar a uma extensão desse prazo, mesmo diante da recessão profunda enfrentada pelo país. A escolha do país, contudo, foi clara: saúde antes da economia. A Argentina será golpeada pelo terceiro ano de recessão, com redução de 5,7% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), e pela escalada do desemprego a 10,9%.

    O peronista Fernández, que mostra preocupação com os números de mortos brasileiros, é a favor do isolamento social – ao contrário de Bolsonaro. Os argentinos foram pioneiros na América Latina na adoção de medidas duras contra a transmissão do vírus. Sua quarentena obrigatória foi uma das pioneiras do planeta, decretada após o registro de nove mortes, e prevê multa a quem andar sem máscara, a cassação de alvará de comerciantes que não se protegerem, patrulhas nas estradas e rastreamento de celulares de motoristas.

    De acordo com um levantamento feito pelo jornal The New York Times, o Brasil tem 38 casos de coronavírus a cada 100.000 habitantes nesta quinta-feira, 30. Enquanto isso, a Argentina tem 10 e o Paraguai, 4. 

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    Também no México, apesar de o presidente Andrés Manuel López Obrador chegar a dizer que não havia razões para as pessoas pararem de se abraçar e beijar, a campanha  “Fique em Casa” passou a vigorar no fim de março. As medidas de isolamento social devem manter-se até o dia 30 de maio, e as Forças Armadas foram mobilizadas para auxiliar na emergência de saúde pública. O país tem 14 casos a cada 100.000 habitantes.

    Também no Peru e no Chile, mesmo sem os resultados esperados, o Exército e a polícia foram colocados nas ruas para vigiar e até prender quem rompesse a quarentena. O Peru, de fato, é o segundo país da região em número de contaminados, com 33.931 enfermos até esta quinta-feira, segundo levantamento da Johns Hopkins University, de Washington. Mas o fechamento do país veio cedo, logo que as autoridades se deram conta da existência de apenas 13 respiradores artificiais na sua rede hospitalar. O total de mortos é de 943, bem abaixo dos 5.540 lamentavelmente registrados no Brasil.

    Segundo a Americas Society/Council of the Americas, fórum de pesquisa sobre América Latina, o Brasil é o país latino com o nível mais acelerado de propagação do vírus. O número de mortes dobra a cada cinco dias, de acordo com a Fiocruz. Mesmo assim, as medidas de contenção da pandemia ainda são mais leves, atrás  apenas da Nicarágua – onde o presidente Daniel Ortega não impôs nenhuma restrição à circulação das pessoas, atribuiu o surgimento do coronavírus a Deus e, como Bolsonaro, defendeu a continuidade da atividade econômica.

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    O isolamento social tem sido a estratégia mais comum – além da mais eficaz, segundo a OMS – entre os países latino-americanos. O acesso limitado a testes de diagnóstico reforça essa iniciativa.

    Se o governo federal brasileiro continuar avesso à estratégia, pode ser que as tendências de propagação da pandemia no Brasil continuem e, ao contrário de outras nações latinas, a reabertura econômica deverá ser muito mais turbulenta. Mas a isso, o presidente provavelmente já tem resposta: “E daí?”

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