O aniversário de 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, nesta sexta-feira 8, foi celebrado de maneira inédita na Europa e Estados Unidos. Cerimônias e eventos tradicionais foram cancelados devido à pandemia de coronavírus, e governos pediram para a população comemorar a data em casa.
O dia da libertação marca a rendição da Alemanha nazista, encerrando quase seis anos de conflito na Europa – que ainda continuou brevemente na Ásia. Pelo menos 70 milhões de pessoas morreram na guerra, a maioria civil, dentre as quais estavam seis milhões de judeus mortos sistematicamente em campos de concentração pelo regime de Adolf Hitler.
Em alto contraste com o 8 de maio de 1945, quando dezenas de milhares de pessoas encheram as ruas dos países europeus vitoriosos, nesta sexta-feira, 8, a comemoração ocorre sem aglomerações, beijos eabraços. Palcos tradicionais de desfiles nessa data, a Avenida dos Campos Elísios, em Paris, e a Praça Trafalgar, em Londres, permaneceram praticamente vazios, segundo o jornal americano The New York Times. Veteranos da Segunda Guerra Mundial foram forçados a ficar em casa.
A pandemia de coronavírus matou quase 120.000 pessoas em toda a Europa, principalmente das gerações mais velhas. As nações europeias implementaram restrições de diferentes níveis, desde uso obrigatório de máscaras até bloqueios nacionais totais para conter a propagação do coronavírus.
Alguns líderes mundiais traçam paralelos entre a luta para conter a pandemia e uma guerra. Nesta sexta-feira, não foi diferente. O conflito que mudou o destino de centenas de milhões de pessoas foi comparado à atual pandemia, que até agora matou mais de 250.000 em todo o mundo. Além disso, a União Europeia, que nasceu de um dos confrontos mais sangrentos da Europa, enfrenta agora sua pior recessão.
Reino Unido
No reino de Elizabeth II, jatos da Força Aérea Real sobrevoaram o Palácio de Buckingham, em Londres – um espetáculo que os britânicos assistiram praticando isolamento social, reporta o jornal britânico The Guardian. A população fez dois minutos de silêncio e foi convidada a brindar enquanto a emissora BBC transmitia um discurso de Winston Churchill, o primeiro-ministro do Reino Unido durante a guerra.
Além disso, a rainha Elizabeth II fará um discurso às 21h, mesma hora em que seu pai, George VI, se dirigiu ao país 75 anos atrás para anunciar a paz.
Um dos veteranos britânicos é o capitão Tom Moore, que serviu na Índia e Birmânia durante a Segunda Guerra Mundial. No mês passado, aos 99 anos, ajudou a arrecadar 37 milhões de dólares para o Serviço Nacional de Saúde (NHS). Nesta semana, o Reino Unido tornou-se o país europeu com mais mortes pela Covid-19, doença causada pelo coronavírus, que chegam nesta sexta-feira a 31.315.
França
O presidente francês, Emmanuel Macron, conduziu as cerimônias comemorativas em Paris sem a costumeira multidão nem a tradicional caminhada de saudação do líder francês aos soldados nos Campos Elísios.
A comemoração contou com poucos participantes, entre eles ministros, políticos e militares, que permaneceram distantes uns dos outros. Enquanto La Marseillaise soava, Macron colocou uma coroa de flores na tumba do soldado desconhecido no Arco do Triunfo, que honra aqueles que lutaram no conflito. Depois de escrever algumas palavras honrosas, o presidente higienizou as mãos.
Franceses também penduraram a bandeira do país em suas janelas e varandas, participando da homenagem sem descumprir o pedido presidencial para ficarem em casa.
O país foi um dos mais atingidos pelo coronavírus na Europa. Registra 174.918 casos de contaminação até este 8 de abril e quase 26 000 mortes.
Alemanha
A cerimônia estadual que geralmente ocorre no 8 de maio na Alemanha foi cancelada, mas a chanceler Angela Merkel e o presidente Frank-Walter Steinmeier fizeram pronunciamentos e ofereceram uma coroa de flores em memória das vítimas da guerra e da tirania.
“Se não mantivermos a Europa unida, inclusive durante e depois dessa pandemia, não estaremos honrando o 8 de maio”, disse Steinmeier. O presidente alemão também pediu às pessoas que rejeitem as tentações do “novo nacionalismo” e do isolacionismo, inflamadas durante a pandemia, segundo a emissora Deutsche Welle.
Após uma petição do Comitê Internacional de Auschwitz, Berlim declarou feriado nesta sexta-feira como “uma oportunidade de refletir sobre as grandes esperanças da humanidade: liberdade, igualdade e fraternidade”.
A Amlemanha foi um dos países considerados exemplares no combate à Covid-19. Ainda assim, constatou a presença de 170.114 enfermos e a morte de 7.445 pessoas.
Rússia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou em abril o adiamento do desfile militar que celebraria os 75 anos da vitória russa sobre a Alemanha de Adolf Hitler. O dia da vitória das tropas soviéticas é considerado sagrado no país, segundo o presidente, que assegurou que todas as celebrações serão reorganizadas quando o vírus não for mais uma ameaça. Os soldados russos foram os primeiros a alcançar Berlim em 1945, apesar dos esforços dos demais aliados.
A Rússia enfrenta um crescimento vertiginoso dos casos de coronavírus, que ameaça uma sobrecarga de seu sistema de saúde. Nesta sexta-feira, ao menos 187.859 pessoas foram infectadas. O país registra 1.723 mortos, mas há fortes suspeitas de subnotificação.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, sete veteranos da Segunda Guerra Mundial, de 96 a 100 anos, se juntaram ao presidente Donald Trump em uma cerimônia de oferecimento de coroas de flores em homenagem às vítimas do conflito, reportou o Times.
Os veteranos esperavam celebrar a data em Moscou, mas os planos foram frustrados devido à pandemia e o fechamento das fronteiras entre nações. É costumeiro ex-militares comemorarem o 8 de maio nos países onde prestaram serviço durante a guerra, como foi o caso desses veteranos. Além disso, para os poucos ainda estão vivos, o momento é particularmente difícil: muitos vivem em casas de repouso sob bloqueios intensos contra o coronavírus.
Os Estados Unidos são o país mais afetado pela Covid-19 no mundo, com 1,27 milhões de casos confirmados e 76.475 mortes.