A Rússia ultrapassou nesta quinta-feira, 30, a marca de 100.000 casos confirmados da Covid-19. Nesta quarta-feira 29, o país reportou à Organização Mundial da Saúde (OMS) quase 6.000 novos enfermos em 24 horas. O presidente Vladimir Putin prorrogou no início desta semana a quarentena nacional, que está em vigor há cinco semanas, para até 11 de maio.
Pelo menos 106.498 enfermos foram contabilizados pelo governo russo até esta quinta-feira. Assim, segundo estimativa da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, a Rússia é o oitavo país mais atingido em todo mundo pela pandemia em número de casos.
Os russos ultrapassaram na segunda-feira 27 os chineses em número de casos reportados à OMS após ter anunciado 12.559 novos enfermos em 24 horas — um crescimento de 287% em relação à média dos cinco dias anteriores. A China, que foi o primeiro epicentro da pandemia, contabilizou oficialmente 84.341 casos.
Desde então, a Rússia reportou à OMS outros 19.300 novos enfermos. Ou seja, os russos contabilizaram nos últimos três dias mais casos do que o total registrado até 13 de abril, quando havia menos de 18.500 casos.
As autoridades russas também informaram que o número de mortos chegou a 1.073 — índice cerca de quatro vezes inferior ao da China, onde mais de 4.600 pessoas morreram pela Covid-19. Na Rússia, porém, quase 10% das mortes foram reportadas nas últimas 24 horas.
“A situação na Rússia é genuinamente melhor do que em muitos países europeus, porque a Rússia conseguiu usar um intervalo de tempo de várias semanas para expandir urgentemente as capacidades do sistema de saúde”, disse porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Segundo estimativa do jornal americano The New York Times, a Rússia tem menos de 1 morte por Covid-19 a cada 100.000 habitantes. O mesmo índice salta para 40 no Reino Unido, 46 na Itália e 53 na Espanha. Na Alemanha, onde o surto da doença está sendo mais controlado, 8 pessoas morrem de Covid-19 a cada 100.000 habitantes.
Embora as autoridades russas tenham se apressado em construir novos hospitais ou converter os existentes em centros dedicados unicamente à Covid-19, o sistema de saúde do país está mostrando sinais de tensão.
Um decreto de 27 de abril emitido em conjunto pelos Ministérios de Saúde e Educação mostra que alguns estudantes de medicina — incluindo aqueles não especializados em infecções, como pediatras e dentistas — estão sendo solicitados a fazer treinamento prático a partir de 1º de maio em hospitais dedicados ao recebimento de pacientes com a Covid-19.
Peskov acrescentou que é cedo para relaxar as medidas de isolamento e permitem que os cidadãos andem pelas ruas normalmente, em referência à extensão das medidas de quarentena até 11 de maio, anunciada por Putin na terça-feira 28. “O pico [de surtos da Covid-19] ainda não foi atingido. Estamos diante do estágio mais intenso da luta contra a epidemia”, justificou Putin — as restrições estavam previstas para durar apenas até o final de abril.
O presidente também, porém, exigiu que o governo produzisse recomendações até 5 de maio para a reabertura gradual do país. Os serviços não essenciais estão em “feriado nacional”, como batizou o governo russo, desde o final de março.
Putin, que ordenou ainda no final de janeiro o fechamento da fronteira de mais de 4.000 quilômetros com a China, tem se demonstrado “estranhamente passivo”, segundo o Times, durante a pandemia, até mesmo no anúncio desta terça da prorrogação da quarentena. Gleb Pavlovsky, um ex-conselheiro de Putin no Kremlin, disse ao Times que o presidente russo “entende que a melhor coisa a fazer é ficar do lado” do povo diante de um inimigo viral que ele não pode derrotar facilmente.
“Ele teme pela sua aprovação e pelo sistema que passou 20 anos criando”, acredita Pavlosvky. Putin, que está no comando do poder federal desde o final da década de 1990, foi reeleito em 2018 com quase 80% dos votos.
O Banco Central russo estima que a economia do país contraia até 6% ao final de 2020 devido, não apenas ao isolamento social, mas também ao colapso dos preços do petróleo.
Devido à falta de demanda por combustível, o preço do barril de petróleo bruto nos Estados Unidos caiu no início desta semana, ficando abaixo de 0 dólares. Ou seja, os compradores estavam dispostos a pagar para a retirada dos barris de seus reservatórios.
(Com Reuters)