A suspeita de fraude nos resultados eleitorais a favor do presidente Evo Morales se intensificou na Bolívia e na comunidade internacional nesta segunda-feira, 21. Muitos bolivianos participaram de vigílias em torno de algumas sedes regionais dos tribunais eleitorais, que ainda não confirmaram se haverá um segundo turno.
Sem os dados dos votos das áreas rurais e do exterior, com os quais Morales conta para vencer no primeiro turno, o Órgão Eleitoral Plurinacional (OEP) não havia atualizado até o início da tarde os resultados preliminares.
Até o momento da interrupção da apresentação dos dados, no domingo 20 à noite, Morales, que está no poder desde 2006 e busca o quarto mandato consecutivo, tinha 45,28% contra 38,16% do segundo colocado, o ex-presidente Carlos Mesa. Cerca de 85% dos votos haviam sido apurados nesse cenário que indicava a necessidade de um segundo turno, a ser realizado em 15 de dezembro.
Para ser eleito em primeiro turno, Morales precisa conseguir mais de 50% dos votos válidos dos votos válidos ou, pelo menos, 40% e dez pontos percentuais de vantagem contra o segundo colocado.
Candidato presidencial da oposição, Mesa denunciou nesta segunda-feira a suposta intenção de Morales de “manipular” o resultado das eleições. “O governo está tentando, através do Tribunal Supremo Eleitoral, eliminar o caminho para o segundo turno”, afirmou em coletiva de imprensa.
Em um cenário de polarização, o segundo turno se transformaria em uma espécie de referendo para Morales sobre seus quase 14 anos de governo, afirmou Mesa, durante a coletiva de imprensa onde classificou de “triunfo inquestionável” sua participação no segundo turno.
Waldo Albarracín, líder do Conade, uma organização civil, alertou que o governo está gerando um clima de instabilidade e disse que “se uma guerra civil ocorrer neste país, é de responsabilidade do governo”.
“Nenhum de nós está interessado em inflamar o ambiente”, declarou o ministro da Comunicação, Manuel Canelas.
Reação internacional
Preocupada com a interrupção na divulgação dos dados, a missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) pediu no Twitter ao TSE que explique por que motivo interrompeu a transmissão dos resultados preliminares e que o processo de publicação dos dados da apuração aconteça de maneira fluida.
Logo após o pedido, o chanceler boliviano, Diego Pary, e os observadores da OEA “acordaram estabelecer uma equipe de acompanhamento permanente do processo de contagem oficial de votos” das eleições, respondeu o ministério boliviano das Relações Exteriores na mesma rede social.
Diante do cenário de dúvidas, o governo dos Estados Unidos se somou aos pedidos para que a Bolívia restabeleça a “credibilidade e a transparência” do processo eleitoral.
O Itamaraty, através de seu perfil oficial no Twitter, disse que a interrupção na contagem dos votos “preocupa muito” e que espera que se dê continuidade ao processo de apuração com “transparência e lisura”.
(Com AFP)