As quatro crianças que ficaram desaparecidas por mais de um mês na Floresta Amazônica colombiana contarão elas mesmas a luta pela sobrevivência, disse o pai dos irmãos mais novos, de 1 e 4 anos, à imprensa nesta segunda-feira, 12. Responsável pela morte da mãe das crianças e de outros dois passageiros, o acidente de avião no início de maio levou à busca incessante pelos menores durante cinco semanas.
Na última sexta-feira, as quatro crianças foram encontradas pelas Forças Militares da Colômbia na província de Caquetá. De acordo com o porta-voz da instituição, Pedro Arnulfo Sánchez Suárez, elas teriam se alimentado da farinha de mandioca que carregavam no voo por algum tempo, mas logo teriam ficado sem ter o que comer. Ele garante, ainda, que o conhecimento dos menores, que são indígenas, foi essencial para a sobrevivência.
“Suas origens indígenas lhes permitiram adquirir uma certa imunidade contra as doenças da selva e o fato de conhecer a própria selva — saber o que comer e o que não –, além de encontrar água, os manteve vivos, o que não teria sido possível (se) eles não estivessem acostumados a esse tipo de ambiente hostil”, defendeu.
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Desnutridas e desidratadas, as crianças foram transferidas para um hospital militar de Bogotá, capital colombiana, no sábado, para receberem os tratamentos adequados. Os laudos médicos indicam que elas ainda “não podem comer”, mas estão fora de perigo de vida. Lesly Jacobombaire Mucutuy, 13, Soleiny Jacobombaire Mucutuy, 9, Tien Ranoque Mucutuy, 4, e a bebê Cristin Ranoque Mucutuy, 1, estão sob monitoramento.
Após realizar uma visita aos seus dois filhos, Manuel Ranoque afirmou que a mãe de Tien e Cristin, Magdalena Mucutuy Valencia, teria permanecido viva por quatro dias após o acidente na mata, apesar da versão ter sido contrariada por outros familiares. Ele disse, além disso, que os menores ‘vão contar suas histórias’ assim que conseguirem.
“Não é fácil perguntar a eles porque as crianças ficaram 40 dias sem comer bem, então não consegui obter informações do filho mais velho”, relatou aos repórteres.
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Um dos cachorros usados na busca, Wilson, está desaparecido desde 18 de maio, segundo um porta-voz. As crianças teriam sido acompanhadas pelo animal “muito magro” ao longo de três ou quatro dias, conforme indicam os relatos, mas o pastor belga não foi encontrado com elas no momento do resgate.
Levando sete pessoas, a aeronave Cessna 206 partiu do aeroporto de Araracuara, em Caquetá, em direção a San José del Guaviare, cidade da província de Guaviare. Problemas nos motores teriam levado o piloto a emitir um alerta de socorro antes do colapso do avião. A viagem tinha como finalidade o encontro da família com Ranoque, que estava afastado dos filhos desde abril, quando foi ameaçado por grupos armados locais.