O crítico do Kremlin Vladimir Kara-Murza foi condenado a 25 anos de prisão por um tribunal de Moscou nesta segunda-feira, 17, a sentença mais severa desde que a Rússia invadiu a Ucrânia. Kara-Murza foi considerado culpado de traição e outros crimes, que ele nega.
Kara-Murza, 41 anos, pai de três filhos e um político da oposição que possui passaportes russo e britânico, passou anos se manifestando contra o presidente russo, Vladimir Putin, e pressionou os Estados Unidos e a União Europeia a impor sanções à Rússia e a cidadãos russos por supostas violações de direitos humanos.
Duas vezes, em 2015 e 2017, Kara-Murza adoeceu repentinamente no que ele disse serem envenenamentos pelos serviços de segurança russos. Em ambas as ocasiões, entrou em coma antes de finalmente se recuperar.
Promotores estaduais de Moscou o acusaram de traição e de desacreditar os militares russos depois que ele criticou a “operação militar especial” do Kremlin – como o governo chama a guerra na Ucrânia.
Em entrevista à emissora americana CNN, horas antes de ser preso, Kara-Murza disse que a Rússia estava sendo governada por um “regime de assassinos” e acusou o Kremlin de bombardear alvos civis na Ucrânia, o que Moscou rejeita.
Depois de ouvir sua sentença na segunda-feira, Kara-Murza declarou: “A Rússia será livre”, um conhecido slogan da oposição.
Na semana passada, durante seu discurso final ao tribunal, o ativista comparou seu julgamento, realizado a portas fechadas, ao espetáculo nos tribunais de Josef Stalin, na década de 1930.
O chefe de direitos humanos das Nações Unidas, Volker Türk, pediu que Moscou liberte Kara-Murza, dizendo que ele foi julgado por acusações relacionadas ao exercício legítimo da liberdade de expressão, “incluindo suas críticas públicas ao ataque armado da Federação Russa contra a Ucrânia”.
Ele acrescentou que a sentença foi “outro golpe no estado de direito e no espaço cívico” na Rússia.
Pouco depois de invadir a Ucrânia em fevereiro do ano passado, a Rússia introduziu leis abrangentes de censura, usadas para silenciar críticos em toda a sociedade. Atualmente, “desacreditar” o exército é punível com até cinco anos de prisão, enquanto espalhar “informações falsas” sobre o conflito pode levar a uma sentença de quinze anos.