Crucial na eleição, geração Z tem vez nas famílias de Kamala e Trump
A candidata democrata tem a moderninha Ella, e o republicano, o caladão Barron
Muito já se falou sobre a relevância do eleitorado jovem na eleição de 5 de novembro nos Estados Unidos. Parte dele resolveu em quem vai votar. Mas a parcela ainda indecisa terá papel fundamental na vitória do republicano Donald Trump ou da democrata Kamala Harris, até — ou principalmente — pelo nível de engajamento. Sabe-se que essa turma só sairá de casa se estiver efetivamente comprometida com seu candidato. Chama atenção, portanto, que nessa votação os dois adversários tenham em casa, para chamar de seu, um representante da geração Z, aquela que está mais ou menos entre os 15 e 30 anos. E eles não poderiam ser mais diferentes. No clã Harris, as rédeas do TikTok estão com Ella Emhoff, 25, filha do segundo-cavalheiro Douglas, uma moça agitada, fashion, de opiniões firmes que gosta de compartilhar nas redes. Na família Trump, foge dos holofotes e da internet o caçula Barron, 18, único filho do ex-presidente com Melania, rapaz quieto, de poucos sorrisos e quase nenhuma palavra.
Modelo e designer de peças de tricô e crochê que vende no Instagram, Ella nasceu na Califórnia e se transferiu para o outro lado do país: formou-se na prestigiada Parsons School of Design, de Nova York, e mora no Brooklyn. Tatuada, cabelo encaracolado (que às vezes alisa), óculos e sorriso fácil, cresceu e apareceu na posse de Joe Biden, em 2021, com um charmoso casaco Miu Miu. Defensora da causa LGBTQIA+, nos últimos meses usou suas redes para pedir doações a serviços humanitários palestinos, inclusive à agência da ONU para refugiados em Gaza (que Israel acusa de conexão com o terrorismo). Harris entrou na sua vida quando tinha 15 anos e elas juram que se dão muitíssimo bem.
No dia do discurso da madrasta, apogeu da convenção democrata em agosto, Ella — que não depila as axilas — usou um vestido desestruturado assinado por Joe Ando, personalidade do TikTok, e fez sucesso. Já o elusivo Barron Trump sequer deu o ar da graça na convenção republicana, um mês antes, e ninguém estranhou. Neste ano só compareceu a um comício do pai, na Flórida, e entrou e saiu mudo. Muito alto (mais de 2 metros), parecido com Trump, Barron estudou em escolas particulares, é muito protegido pela mãe e tudo o que se sabe dele é relatado pelo pai — melhor, portanto, dar certo desconto.
Segundo o orgulhoso Trump, Barron é cheio de amigos e excepcional em tudo o que faz. “Falei que poderia ser um excelente jogador de basquete e ele disse que prefere futebol”, contou certa vez. Formado no ensino médio, “foi aceito em todas as universidades que escolheu” e deve estudar — não se sabe o quê — em Nova York. De acordo com as pesquisas, a turbulência social do século XXI cindiu os interesses de homens e mulheres da geração Z — elas se preocupam com as mudanças climáticas e o direito ao aborto, eles condenam a imigração que suga impostos e rouba empregos. Com Ella de cá e Barron de lá, os likes da geração Z são cobiçados por todos.
Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2024, edição nº 2908