Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês

APURAÇÃO DAS ELEIÇÕES 2024

Continua após publicidade

Cuba acena com mudanças que podem facilitar a aproximação com os EUA

Com o abismo econômico ainda mais profundo por causa da pandemia, a ilha flexibiliza o câmbio e aponta para transformações

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 13h39 - Publicado em 24 dez 2020, 06h00

No aniversário de 61 anos da revolução que levou Fidel Castro (1926-2016) ao poder, Cuba iniciará em 1º de janeiro uma reforma que, pela primeira vez, abrirá uma fresta no rigoroso controle da economia nacional. Anunciada pelo presidente Miguel Díaz-Canel, sentado ao lado de Raúl Castro, o irmão de Fidel que assumiu o comando do Partido Comunista, a mudança consiste na abolição do CUC, uma espécie de moeda paralela conversível em pesos e amplamente usada nos setores de turismo e de importação. Colocado em circulação em 1994, para facilitar transações com estrangeiros em uma época de crise brutal provocada pelo fim da União Soviética e dos subsídios que sustentavam a ilha, o CUC criou duas classes de cubanos: aqueles com acesso às verdinhas valorizadas e o resto, obrigado a usar notas incapazes de comprar os artigos que a escassez empurrou para o mercado negro. Agora, premido pela catástrofe adicional da pandemia, que reduziu o turismo em 60%, podou as exportações em 20% e deve levar o PIB a uma contração de 8%, o governo decidiu acabar com o CUC, permitir a troca de pesos por dólares e unificar as transações.

Na economia paralela impulsionada pelo CUC, médicos e cientistas punham o diploma na gaveta e se tornavam taxistas e guias turísticos, com acesso aos dólares que permitiam a compra de artigos vendidos apenas em lojas especiais. Além disso, um ativo mercado negro negociava tudo o que estava em falta em CUCs, sem recolher taxas nem tributos. Enquanto as importações tiravam partido da paridade um para um, as exportações se ressentiam do peso desvalorizado. Para se ter uma ideia do nível atual de insatisfação, parte da população decidiu se arriscar em protestos públicos, uma raridade no país. No fim de novembro, 500 pessoas se postaram na frente do Ministério da Cultura para protestar contra a repressão ao Movimento San Isidro, coletivo com sede em Havana que tentou reagir com uma greve de fome à prisão de um de seus integrantes, o rapper Maykel Osorbo Castillo. As reformas visam a despressurizar o descontentamento, atrair investimentos e amenizar o sufoco econômico. “Mas não é uma solução mágica para todos os problemas”, pondera Díaz-Canel.

Em um primeiro momento, as medidas vão afetar os setores movidos a CUC e aumentar preços. Antecipando-se a esses nós, o governo elevou em 525% o salário mínimo, de 400 para 2 100 pesos (17 para 87 dólares). As empresas prejudicadas terão um ano de benefícios para se adaptar ao novo sistema. Foram ampliados os setores sujeitos a controle de preços, mas haverá redução dos subsídios a transporte, eletricidade e água. Por trás das mudanças vibra a esperança de retomada da aproximação com os Estados Unidos, iniciada por Barack Obama e torpedeada por Donald Trump. A equipe do presidente eleito Joe Biden, que como vice de Obama liderou a distensão, já estuda um alívio nas restrições de viagem, investimentos e remessas de dinheiro dos Estados Unidos para a ilha. “Cuba está na encruzilhada entre décadas de ditadura e a perspectiva de democracia”, diz Daniel Pedreira, cientista político da Florida International University. É um começo.

Publicado em VEJA de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.