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Cushing, a cidadezinha americana no epicentro do novo crash do petróleo

Com somente 7.500 habitantes, Cushing é peça-chave no sofisticado sistema de armazenamento de petróleo dos EUA

Por Ernesto Neves Atualizado em 27 abr 2020, 16h06 - Publicado em 27 abr 2020, 14h21

Com 7.500 habitantes, Cushing, no estado americano de Oklahoma, tem pouca, quase nenhuma, movimentação nas ruas. Escasso, o comércio se restringe a mercadinhos, uma churrascaria, uma venda de comida mexicana e uma lanchonete da rede de fast food KFC. Mesmo assim, esse vilarejo aparentemente parado no tempo está no epicentro do novo choque do petróleo.

Isso acontece porque Cushing é o coração do sistema de armazenamento do petróleo WTI, como é chamado o produto prospectado nos Estados Unidos. Seus tanques têm capacidade para guardar 76 milhões de barris, o que corresponde a 13% da capacidade total dos americanos. A cidade se autointitula como “a maior encruzilhada de gasodutos do mundo”. É de seus reservatórios que sai o óleo responsável por abastecer grande parte das refinarias do país.

O problema é que com a pandemia do novo coronavírus, e a consequente paralisação da economia, o consumo mundial de petróleo desabou. No momento, as refinarias demandam 12 milhões de barris por semana, quatro vezes menos que em 2019. Essa queda sem precedentes fez com que os estoques de Cushing rapidamente lotassem, com tanques atingindo 89% da capacidade, um recorde histórico.

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Na última segunda (20), o alto estoque do produto fez com que o barril WTI fosse vendido a 37 dólares negativos. Ou seja, sem espaço para guardá-lo, quem comprou o produto agora está disposto a pagar para não recebê-lo. O choque, que desencadeou forte turbulência no mercado financeiro, diz respeito aos contratos negociados para o mês de maio. 

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Para junho, o cenário é um pouco melhor, mas ainda assim preocupante. O valor está em 14 dólares o barril nesta segunda, o mais baixo em 20 anos. Outra referência mundial, o petróleo do tipo Brent, negociado pela Bolsa de Londres e que serve de guia para a Petrobras, também foi empurrado para baixo, sendo cotado a 20 dólares, pior cotação desde 2003.

Com 3 bilhões de barris comercializados a cada semana, o WTI é o contrato de petróleo mais negociado no planeta.

Isso significa que o preço global do petróleo é controlado pela quantidade do produto guardado em Cushing. O sobe e desce de seu estoque serve como termômetro para negociadores de Londres, Xangai e Moscou. Toda vez que os estoques da cidadezinha ultrapassam os 80% da capacidade, os preços caem.

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“Dizemos que é a Meca do petróleo deste lado do mundo”, afirma Thomas Ramsey, executivo da ARX Energy, empresa com sede em Houston, que supervisiona projetos de tanques em Cushing.  

Sistema de armazenamento de petróleo
Sistema de armazenamento de petróleo: 89% dos tanques estão com capacidade máxima (Reprodução/Reprodução)
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Como se vê, a diminuta Cushing é uma aula sobre duas leis elementares da economia – oferta e demanda. Mas também traz valiosas lições do empreendedorismo que permeia a história dos EUA. Foi lá que, em 1912, um grupo de desbravadores vindos da Pensilvânia descobriu o primeiro poço da região. Liderados pelo empresário Tom Slick, arricaram meses de trabalho na perfuração do solo, atividade de altíssimo risco àquela altura.

Num curtíssimo espaço de tempo, até o início da década de 1920, Oklahoma passou de imensa pradaria desabitada para motor da economia petrolífera (ver abaixo). A riqueza trouxe infraestrutura e progresso num ritmo alucinante. Da noite para o dia chegavam trabalhadores de todo o país, ajudando a criar cidades inteiras. Essas novas comunidades já nasciam integradas ao restante dos EUA através de rodovias e ferrovias recém-inauguradas. Na esteira do dinheiro abundante, vieram ainda hoteis, restaurantes e lojas de artigos de luxo. 

Cartão postal de Cushing

Cartão postal mostra poços de petróleo no início do século XX

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Os poços de 100 anos atrás se esgotaram há tempos, mas Cushing, como se vê no atual sobe e desce do mercado, manteve sua relevância inalterada. Isso se deve a outra revolução na indústria petrolífera, o xisto. De altíssima complexidade tecnológica, essa técnica converte a matéria orgânica no interior da rocha em petróleo e gás sintético. Iniciada nos anos 90, a nova forma de produção fez com que os americanos deixassem de depender das importações, sobretudo do instável Oriente Médio. E tornaram-se, assim, os maiores produtores da commodity da atualidade. Uma reviravolta que deixou o mercado global de queixo caído.

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