Defendendo Maduro, Lula compara governo Guaidó à invasão russa da Ucrânia
Presidentes brasileiro e argentino dizem que presença da Venezuela na Celac é legítima e que crise política deve ser resolvida 'com diálogo'
Após o anúncio de que a Venezuela cancelou uma reunião bilateral entre o líder Nicolás Maduro e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira, 23, em Buenos Aires, ele e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, defenderam a presença do país na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que ocorre na terça-feira, 24.
“A cúpula do Celac reúne países da América Latina e Caribe. Portanto, todos os países membros estão convidados. Não temos nenhum poder de veto e nem queremos ter”, declarou Fernández. “Portanto, a presença dos presidentes de Cuba e Venezuela é mais uma inquietação de alguns meios de comunicação do que dentro da Celac.”
Segundo o argentino, esses fóruns existem justamente para que pontos de divergência possam ser debatidos. Ele afirmou que a preocupação mais importante deve ser pelo diálogo entre os venezuelanos, que eles “recuperem a convivência democrática e os seus direitos sejam respeitados”.
“Não tenho nenhuma notícia que o presidente Maduro não venha [para a Celac]”, garantiu.
Lula ecoou a defesa do aliado, dizendo que “um papel nesse mandato na presidência do Brasil é, se eu puder, ser um construtor de paz”.
“Muitas pessoas esquecem que [a oposição venezuelana] fez uma coisa abominável com a democracia, que foi reconhecer um cara que não era presidente, não tinha sido eleito, como presidente”, afirmou Lula, referindo-se a Juan Guaidó, então presidente da Assembleia venezuelana. “Esse cidadão ficou vários meses exercendo o papel de presidente, sem ser presidente.”
Segundo o líder brasileiro é preciso garantir que a autodeterminação dos povos seja respeitada em qualquer país. “Da mesma forma que eu sou contra a ocupação territorial, como a Rússia fez à Ucrânia, sou contra muita ingerência no processo da Venezuela”, disse.
Ele acrescentou, ainda, que para resolver o problema na Venezuela é preciso de diálogo, não de bloqueios e sanções, em crítica à política dos Estados Unidos em relação a Caracas. Usando o gancho, também mencionou Cuba: “Espero que logo, logo, Cuba possa voltar a um processo de normalidade e se acabe o bloqueio que já dura mais de 60 anos, sem nenhuma necessidade.”
“A Venezuela vai voltar a ser tratada normalmente, como todos os países querem ser tratados. O que quero ao Brasil, quero à Venezuela: respeito”, declarou.
“Não sei se o Maduro vai vir. Tinha uma reunião com ele hoje, 16h, mas fui informado que talvez ele não venha. Vai ficar para outra oportunidade. Espero que dentro de dois meses a gente tenha resolvido o problema da embaixada, para atingirmos a normalidade”, concluiu.