Um dia antes das eleições presidenciais americanas, as pesquisas mostram uma disputa acirrada entre o presidente Donald Trump e seu oponente Joe Biden pelo estado do Texas. Região tradicionalmente republicana, a última vez em que um democrata ganhou por ali foi em 1976, quando Jimmy Carter ultrapassou seu concorrente Gerald Ford.
Uma vitória de Biden no Texas provavelmente acabaria com qualquer chance de reeleição para Trump. O estado tem o segundo maior colégio eleitoral do país (38 delegados), atrás apenas da Califórnia – que é um dos maiores redutos dos democratas no mapa.
Porém, se os republicanos confirmarem o favoritismo histórico por ali, a corrida não necessariamente acabará para Biden. Isso porque os democratas mantém bons resultados em estados tradicionalmente progressistas, como Nova York e Califórnia, e podem compensar a diferença com vitórias em estados-chaves, cuja maior parte dos eleitores não têm um partido preferencial definido.
Segundo as médias das últimas pesquisas elaborada pelo site RealClearPolitcs, Biden tem atualmente 46,5% das intenções de voto no estado, contra 47,7% de Trump. A diferença é de 1,2 ponto a favor do atual presidente, o que representa uma situação perigosa, já que os texanos costumam dar vantagens muito mais confortáveis para os candidatos republicanos.
Em 2016, Trump ganhou na região com 52,2% dos votos contra 43,2% de Hillary Clinton. Já em 2004, o republicano George Bush venceu John Kerry com mais de 20 pontos porcentuais de diferença. Esta eleição é a primeira vez em muitos anos que os canais de televisão e jornais americanos estão apontando uma possibilidade de mudança no estado.
A votação antecipada em massa pelos texanos também parece favorecer uma retomada dos democratas. Até sexta-feira 30, mais de 9 milhões de eleitores já haviam votado no estado, mais do que o total de pessoas que comparecerem às urnas em 2016.
As pesquisas mostram que Joe Biden lidera por uma pequena margem entre eleitores que depositaram seu voto pelo correio ou compareceram aos centros de votação nas últimas semanas para evitar as filas de 3 de novembro. Já Trump lidera entre os americanos que deixarão para ir às urnas no último dia.
E quanto maior o comparecimento às urnas nos EUA, onde o voto não é obrigatório, maior tende a ser a vantagem democrata. “O comparecimento eleitoral no Texas é um dos sinais de que, mesmo que o estado não vire democrata este ano, a tendência para o futuro é que fique cada vez mais azul”, diz Ariane Roder, cientista política e coordenadora de relações institucionais do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Onda azul
A mudança no perfil eleitoral está relacionada, entre outros fatores, a mudanças demográficas no estado. Nos últimos anos a região passou a concentrar maior proporção de eleitores latinos e jovens, que se mudam para fugir do preço alto dos aluguéis na Califórnia e Nova York. Já é tradição que os democratas conquistem mais votos desses grupos.
Em 2018, a tendência já começava a crescer. Na eleição de meio de mandato daquele ano, o democrata Beto O’Rourke chegou a ficar apenas três pontos de derrubar o republicano Ted Cruz na corrida pelo Senado no estado. Foi o melhor desempenho democrata em uma batalha pela Câmara Alta do Texas desde 1988.
Não foi apenas O’Rourke que chegou perto. Os candidatos democratas a procurador-geral e tenente-governador terminaram a menos de cinco pontos de seus oponentes republicanos.
Em 2020, porém, há ainda um distanciamento de alguns dos eleitores mais tradicionais do Partido Republicano da figura de Donald Trump. Com sua retórica agressiva, tendência a espalhar fake news, o atual presidente afastou até algumas figuras marcantes de sua legenda, como o senador e ex-candidato à Presidência Mitt Romney e o ex-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca John Bolton.
Em agosto, dezenas de ex-congressistas republicanos, liderados pelo ex-senador Jeff Flake, do Arizona (estado majoritariamente pró-Trump), lançaram o movimento Republicans Against Trump (Republicanos Contra Trump). Diante da debandada, pode-se esperar que eleitores mais conservadores também não queiram apoiar o magnata.
Aproveitando-se da tendência, Biden tem investido mais dinheiro e tempo no Texas do que outros candidatos democratas fizeram no passado. Só no mês de outubro, foram mais de 6 milhões de dólares em propaganda voltada para a região. A senadora Kamala Harris, candidata a vice-presidente na chapa democrata, ainda escolheu o Texas com um de seus destinos na última semana da eleição presidencial – diferente do que fizeram outras campanhas de sua legenda em votações anteriores.