Depois de Milei criticar Mercosul, Lula diz que estar no bloco ‘protege’ países
Em Buenos Aires para cúpula do grupo, brasileiro delineia prioridades para sua presidência rotativa e fala em 'blindagem' de guerras comerciais alheias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 3, que estar no Mercosul “protege” seus Estados-membros, falando em uma “blindagem” contra guerras comerciais alheias – sem mencionar diretamente os tarifaços do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vêm abalando o mundo. As declarações positivas destoaram do discurso do presidente da Argentina, Javier Milei, que antes de passar a presidência rotativa do bloco ao brasileiro defendeu que as ações conjuntas do grupo “prejudicaram” a maior parte dos cidadãos.
“Estar no Mercosul nos protege. Nossa Tarifa Externa Comum nos blinda contra guerras comerciais alheias. Nossa robustez institucional nos credencia perante o mundo como parceiros confiáveis”, afirmou Lula.
Segundo ele, um número cada vez maior de países estão interessados em se aproximar do bloco sul-americano, um movimento que diz ter testemunhado “pessoalmente” nos contatos que manteve com líderes de diversas regiões.
Lula também afirmou que o comando do bloco pelo Brasil nos próximos seis meses terão cinco prioridades, a primeira delas sendo o fortalecimento do comércio entre os países do bloco e com parceiros externos. As outras são: enfrentamento da mudança do clima e promoção da transição energética; desenvolvimento tecnológico; combate ao crime organizado e promoção dos direitos dos cidadãos.
“Enfrentaremos o desafio de resguardar nosso espaço de autonomia em um contexto cada vez mais polarizado. A presidência brasileira representará uma oportunidade para refletir sobre o lugar que almejamos ocupar no novo tabuleiro global”, completou o mandatário brasileiro, que há tempos tenta emplacar o Mercosul como um player importante, sem muito sucesso.
Críticas de Milei
Mais cedo, em discurso na cúpula do Mercosul em Buenos Aires, o presidente da Argentina criticou a burocracia do bloco e sugeriu que seus membros estão submetidos a restrições excessivas devido à regra de não poderem negociar por conta própria – uma “cortina de ferro”, como definiu.
“Se o Mercosul foi criado com a intenção de nobre de integrar as economias da região, em algum momento esse norte foi afundando e a ação comercial conjunta terminou por prejudicar a maioria dos nossos cidadãos em prol de privilegiar alguns setores”, disse Milei. “A barreira que levantamos para nos proteger comercialmente em um momento que considerávamos valioso, terminou por nos excluir do comércio e da competição globais e acabou castigando nossas populações com piores bens e serviços a piores preços”, acrescentou.
O ex-presidente do Uruguai Luis Lacalle Pou era aliado do líder argentino nesse sentido – queria fazer um acordo separado apenas entre seu país e a China. Ele foi sucedido neste ano, porém, pelo esquerdista Yamandú Orsi, que compartilha as visões de Lula. Milei ficou isolado ao pedir, nesta quinta-feira, que o Mercosul adote medidas de “liberdade comercial” e, caso isso não ocorra, será preciso flexibilizar regras do bloco.
Esta é a primeira viagem de Lula à Argentina desde a posse de Milei, em dezembro de 2023. Apesar das relações diplomáticas entre os países continuarem relativamente próximas, os dois presidentes ainda não tiveram uma reunião bilateral e costumam trocar farpas. Durante a viagem a Buenos Aires, o petista deve visitar a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, que está em prisão domiciliar após ser condenada em um caso de corrupção. A agenda com a opositora de Milei ofuscou a cúpula do Mercosul.