O grupo de chavistas armados que invadiu a Assembleia Nacional da Venezuela nesta quarta-feira e deixou 12 pessoas feridas manteve durante mais de sete horas um bloqueio ao local, informou o jornal El Nacional. De acordo com o presidente da Assembleia, Julio Borges, 350 pessoas, incluindo deputados, jornalistas e funcionários do Parlamento permaneceram sitiados dentro do edifício.
O deputado opositor Henry Ramos Allup responsabilizou o presidente Nicolás Maduro e a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) pelo ataque comandado pelo Coletivo (milícia armada simpatizantes do governo). “Tudo isso aconteceu diante do olhar impassível da Guarda Nacional. Estes são fatos sumamente graves”, afirmou Ramos em entrevista coletiva na sede do Parlamento. “Em uma mostra inaudita desse cinismo descarado que o caracteriza, (Maduro disse que) para ele estes fatos eram muito estranhos”, disse.
O deputado, que já foi presidente da Assembleia Nacional, contou que dezenas de pessoas identificadas com a chamada revolução bolivariana atacaram a Câmara com pedras e explosivos “de alta ressonância” e que “houve disparos de armas de fogo”, que deixaram “buracos de bala em muitas das paredes e vidros quebrados”. “Isto faz parte do assédio delinquencial das milícias armadas do regime contra a Assembleia Nacional”, completou.
Sete parlamentares foram feridos e cinco estão hospitalizados. Os deputados Américo de Grazia, Nora Bracho, Armando Armas, Luis Carlos Padilla e Leonardo Regnault foram atingidos fortemente -três deles na cabeça- e levados a um centro médico. Manchas de sangue podiam ser vistas nas paredes, e alguns legisladores estavam com as roupas rasgadas. De Grazia teve convulsões e ferimentos mais graves. “Isso não dói mais do que ver todos os dias como perdemos o país“, declarou Armas aos jornalistas ao subir em uma ambulância com curativos na cabeça.
Pouco antes dos episódios de violência no Legislativo, o vice-presidente do Governo, Tareck el Aissami, havia convocado “o povo das ruas” a ir à Assembleia, em um discurso no Parlamento no qual acusou de traidora a maioria opositora e a recriminou por ter “sequestrado” o Parlamento.
“Jamais serei cúmplice de nenhum caso de violência. Eu os condeno, ordenei uma investigação e quero que se faça justiça”, afirmou o presidente venezuelano hoje durante o desfile cívico militar em Caracas em comemoração ao 206º aniversário da independência venezuelana. Sem admitir que quem entrou no Legislativo foram seus apoiadores, Maduro condenou os acontecimentos e pediu uma investigação.
Desde 1º de abril, a Venezuela vive uma onda de manifestações contra o governo. Os manifestantes exigem a saída de Maduro, cuja dura repressão já deixou 91 mortos e mais de mil feridos, segundo o Ministério Público do país.
O cenário é agravado por uma devastadora crise econômica e uma inflação fora de controle no país, com uma grave escassez de alimentos e remédios. “Não vamos nos intimidar com esses atos de violência. Não vamos nos calar sobre a Constituinte comunista“, disse o vice-presidente do Congresso, Freddy Guevara.
(com EFE e AFP)