O Paquistão lançou ataques com drones e foguetes assassinos contra o Irã nesta quinta-feira, 18, dois dias depois que Teerã bombardeou o país, mirando as bases de um grupo sunita – o alvo da investida paquistanesa, por sua vez, eram milícias separatistas balúchis. Segundo a mídia iraniana, uma vila na província de Sistão-Baluchistão, que faz fronteira com o Paquistão, foi a mais afetada pelos ataques: lá morreram pelo menos nove pessoas.
Os vizinhos não são exatamente aliados, mas essas trocas de disparos são as mais extremas nos últimos anos e ocorrem em meio a preocupações crescentes sobre a instabilidade no Oriente Médio desde que a guerra entre Israel e o Hamas eclodiu em 7 de outubro.
O que diz o Paquistão
“Vários terroristas foram mortos durante a operação baseada em inteligência”, declarou o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, descrevendo-a como uma “série de ataques militares de alta precisão e especificamente direcionados contra esconderijos terroristas”.
Segundo o exército paquistanês, os ataques de precisão foram realizados usando drones assassinos, foguetes e armas isoladas, contra bases usadas pela Frente de Libertação Balúchi (BLF) e pelo Exército de Libertação Balúchi.
“O Paquistão respeita plenamente a soberania e integridade territorial da República Islâmica do Irã”, acrescentou o ministério, enfatizando que o único objetivo do ataque era a “segurança e interesse nacional do Paquistão”.
O que diz o Irã
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kanaani, disse que o governo iraniano condena veementemente os ataques, acrescentando que o encarregado de negócios do Paquistão, seu diplomata mais graduado em Teerã, foi convocado para dar uma explicação.
Em Islamabad, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores comunicou que o primeiro-ministro interino do Paquistão, Anwaar-ul-haq Kakar, deixaria o Fórum Econômico Mundial em Davos e voltaria para casa.
Na mesma moeda
Na terça-feira 16, o Irã atingiu alvos dentro do Paquistão que alegou serem bases do grupo Jaish al Adl (JAA), balúchis sunitas que são responsáveis por uma série de ataques contra território iraniano. O governo paquistanês relatou que o ataque atingiu civis e matou duas crianças.
Islamabad chamou de volta o seu embaixador no Irã na quarta-feira 17, em protesto contra uma “violação flagrante” da sua soberania.
Todo poderoso Irã
Antes dos ataques ao Paquistão, Teerã também fez disparos importantes contra a Síria, para atingir instalações do Estado Islâmico, e no Iraque, onde disse ter atacado um centro de espionagem israelense.
Bagdá convocou de volta seu embaixador em Teerã.
Balúchis
Os grupos militantes visados nos ataques tanto de Teerã quando de Islamabad operam numa área que inclui a província do Baluchistão, no sudoeste do Paquistão, e a província de Sistão-Baluchistão, no sudeste do Irã. Ambos são instáveis, ricos em minerais e, em grande parte, subdesenvolvidos.
O BLF, que Islamabad tinha como alvo dentro do Irã, trava há tempos uma rebelião armada contra o Estado paquistanês, com objetivos separatistas. Já o Jaish al Adl, alvo de Teerã, também é um grupo étnico militante, mas com tendências islâmicas sunitas – que o governo iraniano, de vertente xiita, vê como uma ameaça. O grupo realiza ataques frequentes contra a Guarda Revolucionária iraniana e tem ligações com o Estado Islâmico.