Nas cinco viagens internacionais que realizou desde que foi eleito, o presidente Lula fez questão de reafirmar o renascimento do Brasil na cena internacional, no avesso do vergonhoso vácuo do governo de Jair Bolsonaro. Não haveria tabuleiro mais propício para movimentar as peças de relevância do que a guerra deflagrada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Nesse campo, contudo, a diplomacia brasileira tem demonstrado um amadorismo constrangedor. Na segunda-feira, 17, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu no Itamaraty o chanceler russo Sergey Lavrov (à esq.) O encontro ocorreu um dia depois de Lula ter dito que os dois países em briga têm igual responsabilidade pelos tiros e bombas e que Estados Unidos e Europa “contribuem” para que o conflito não acabe. Ele ainda sugeriu que a Ucrânia abra mão da Crimeia em ideia que causou espanto no Ocidente e foi bem recebida apenas por Vladimir Putin, é claro. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, pôs o dedo na ferida: “O Brasil está papagueando a propaganda russa e chinesa sem observar os fatos em absoluto”. Não demorou para haver algum recuo retórico, no dia seguinte à partida de Lavrov, com o reconhecimento do óbvio. Enfim, Lula admitiu a “violação da integridade territorial da Ucrânia”. Vale lembrar que, nesse campo internacional, o brasileiro já havia despertado a irritação da Casa Branca ao disparar contra a dolarização da economia. A vaidade do presidente de voltar ao palco global precisa — urgentemente — ser mais bem administrada.
Publicado em VEJA de 26 de abril de 2023, edição nº 2838