Dólar deve ter forte alta com repatriação de capitais aos EUA, diz WSJ
Programa de repatriação de fundos para empresas americanas deve gerar alta do dólar em 2018; incertezas no Brasil podem desvalorizar ainda mais o real
A possível repatriação de até US$ 400 bilhões que as companhias americanas têm fora dos Estados Unidos pode gerar uma forte alta no dólar no início de 2018, informa nesta segunda-feira o “The Wall Street Journal” (WSJ).
A publicação americana analisa o impacto que a decisão do governo de Donald Trump de fixar uma taxa de 8% a 15,5% sobre os capitais de empresas americanas que queiram repatriá-los pode ter sobre o valor do dólar em relação a outras moedas.
Esse imposto, que será aplicado uma única vez, procura favorecer empresas que haviam levado suas sedes fiscais ou os seus negócios para fora dos Estados Unidos, aproveitando-se de cargas tributárias inferiores em outros países.
Os cálculos indicam que os fundos somados podem ser de entre um a até três trilhões de dólares, mas dados citados pelo WSJ indicam que a repatriação monetária deve ficar entre 200 e 400 bilhões de dólares.
De acordo com o jornal, muitas empresas optarão por vender ou converter em dólares seus ativos fora dos Estados Unidos para poder repatriá-los. Isso deve gerar uma demanda adicional de moeda americana pelo menos na primeira parte do ano.
Segundo o Bank of America Merrill Lynch, no primeiro trimestre do ano o euro pode chegar a ter um valor de US$ 1,10, frente ao valor de US$ 1,1862 do fechamento da última sexta-feira.
A valorização do dólar em relação ao euro só não deve ser maior, pois a União Europeia ensaia afrouxar algumas das medidas em vigor desde a crise financeira de 2008, o que deve tornar a moeda única do continente mais atrativa para investidores buscando diversificar suas operações em moedas estrangeiras.
Cálculos do grupo bancário JPMorgan citados pelo WSJ confirmam essa apreciação do dólar na primeira parte do ano, embora na projeção para o final de 2018 o euro chegará até US$ 1,30.
A reforma impulsionada pela Casa Branca reduz de 35% para 21% o imposto aplicado sobre os lucros corporativos. Trump veio insistindo na necessidade de cortar os impostos sobre estes lucros para evitar a fuga de empresas.
O dólar no Brasil de 2018
Com o real já pressionado pela demora na aprovação da reforma previdenciária, um possível retrocesso nos processos da Lava Jato, eleições presidenciais em um cenário turbulento e pouco claro nas três esferas federais de Poder, além de um déficit primário persistente nas contas da União, não é difícil prever um cenário de dupla pressão sobre o real: enquanto os eventos domésticos empurram o valor da moeda nacional para baixo, a valorização internacional prevista para o dólar deve elevar ainda mais os ganhos da moeda americana no primeiro semestre.
Somente tomando a valorização do dólar frente ao euro citada pelo WSJ, a moeda americana poderia ainda no começo de 2018 voltar a patamares próximos a quatro reais. Se as reformas e os ventos políticos afugentarem ainda mais os investidores e a nota do Brasil for novamente rebaixada pelas agências internacionais de risco, o real poderia ter seu valor ainda mais reduzido frente a moedas estrangeiras.
(Com EFE)