Donald Trump perdeu fortuna bilionária que não tinha
Denúncia de jornal americano esquenta a pressão do Congresso pela divulgação das últimas seis declarações do imposto de renda do presidente-magnata
O que é preciso para perder mais de 1 bilhão de dólares ao longo de uma década, aumentando exponencialmente os prejuízos ano após ano? Primeiro, ter mais de um bilhão de dólares. Segundo, ser um empresário ou gestor, no mínimo, sofrível.
Pois o presidente que se elegeu em 2016 nos Estados Unidos vendendo a imagem de grande empreendedor e bilionário ousado foi talvez o contribuinte americano que mais sofreu prejuízos entre 1985 e 1994. Trump relatou tantas perdas que não pagou imposto em 8 daqueles 10 anos, enquanto cidadãos e empresas menos afortunados não tiveram o mesmo alívio tributário.
O jornal The New York Times obteve 10 anos de transcrições das declarações de renda de Donald Trump. Transcrições são documentos produzidos pelo Leão americano com base na declaração original do imposto de renda entregue pelo contribuinte. Quando uma pessoa pede um empréstimo, por exemplo, autoriza um banco a investigar sua vida financeira e seus arquivos no fisco, que torna disponível a transcrição.
O quadro apresentado pelos documentos obtidos pelo Times surpreendeu até os mais veteranos investigadores das finanças do empresário nova-iorquino. A conclusão inicial parece ser a de que Trump perdeu uma fortuna que dificilmente possuía.
Trombetas
VEJA conversou com dois jornalistas que seguem Trump há décadas e publicaram livros sobre o presidente. Tim O’Brien, hoje editor executivo da Bloomberg Opinion tomou um baita processo de Trump quando publicou TrumpNation: The Art of Being The Donald (Nação Trump: A Arte de Ser o Donald, em tradução livre), em 2005. No livro, O’Brien revelava que Trump não era bilionário, como trombeteava, mas teria uma fortuna de no máximo 250 milhões de dólares.
Trump pediu indenização de 5 bilhões de dólares por supostos danos sofridos, valor que afirmava ser o total de sua fortuna. Antes de perder na Justiça, foi forçado a dar depoimentos à defesa de O’Brien, inclusive sobres seus negócios.
O’Brien não está surpreso com a revelação do Times sobre os alegados prejuízos, mas com a escala espantosa da perda, que subiu para perto de 1 bilhão de dólares em 1994.
O autor David Cay Johnston concorda. Ele é um especialista no fisco americano que se mudou para Atlantic City em 1988, quando Trump investia em cassinos ali que, anos depois, viriam a falir. “As perdas de Trump ao longo da década são totalmente desproporcionais ao que apuramos ser a fortuna das suas empresas no período examinado.”
Johnston é autor de The Making of Donald Trump (A Formação de Donald Trump, em tradução livre), um livro que narra as ligações perigosas do atual presidente, cujos negócios no passado se beneficiaram de contato com a máfia russa e o narcotráfico.
Um dos números mais intrigantes revelados pelo Times, afirma Johnston, é o pagamento de 52.9 milhões de dólares relativo aos juros sobre aumento de renda em 1989. “Ele teria que ter acumulado, naquele ano, entre 350 milhões e 650 milhões de dólares em bens e títulos do Tesouro para pagar esta quantia, e não há a mais remota possibilidade de que sua família tinha esta fortuna então. Qual a origem deste dinheiro?”, pergunta.
Tim O’Brien lembra que, além da perda de 1,17 bilhão de dólares, o presidente dera um calote em vários empréstimos de bancos, num total de 3 bilhões de dólares. “Ele vai alegar que apenas se aproveitava das chances de pagar menos impostos usando, entre outros recursos, a depreciação de seus ativos,” diz.
Mas, tanto O’Brien quando Johnston destacam a importância de obter as declarações de imposto de renda do presidente dos Estados Unidos dos últimos 6 anos – as mesmas requeridas pela Câmara e negadas pela Secretaria do Tesouro.
“Foi um período em que entrou muito dinheiro vivo nas empresas dele, depois de uma década de perdas,” diz O’Brien. “O povo americano precisa saber se o presidente recebeu dinheiro do exterior, de russos ou de chineses, algo que o tornaria vulnerável e um problema para a segurança nacional.”