Duda vence na Polônia, mas disputará segundo turno com liberal de direita
Atual presidente obteve 43,7% dos votos e Rafal Trzaskowski, atual prefeito de Varsóvia, recebeu 30,3%; segundo turno está marcado para 12 de julho
O atual presidente da Polônia, o conservador Andrzej Duda, venceu o primeiro turno da eleição, ocorrida no último domingo, 28, e enfrentará o candidato liberal, Rafal Trzaskowski, no segundo turno, previsto para 12 de julho.
Os resultados parciais foram anunciados nesta segunda-feira, 29, pela Comissão Eleitoral do país. Com, 99,78% das urnas apuradas, Duda obteve 43,7% dos votos. Trzaskowski, atual prefeito de Varsóvia, recebeu 30,3% dos votos. O candidato independente, Rafal Holownia, conquistou 13,9% dos votos. Os outros oito candidatos somados não superaram 10% dos votos.
ASSINE VEJA
Clique e AssineA taxa de participação na eleição, tradicionalmente baixa na Polônia, foi de apenas 64,4%, segundo a comissão. Esse ano, porém um novo elemento contribuiu para que as pessoas ficassem em casa: a pandemia do coronavírus, que já havia obrigado as autoridades a adiarem o pleito de maio para junho.
Um dos principais temas da campanha foi o temor dos poloneses de uma recessão, a primeira no país desde o fim do comunismo, devido à pandemia.
A vitória parcial de Duda foi uma boa notícia para o presidente da extrema direita, já que ficou acima do previsto pelas pesquisas – o instituto de estatísticas Europe Elects apontava uma vitória por 40% -, mas Duda não contava com a disputa do segundo turno. Antes dos adiamento das eleições, ele liderava as pesquisas e tinha boas chances de se reeleger na primeira disputa. Agora, o candidato deve intensificar o discurso voltado às famílias, que inclui ataques à homossexuais e a manutenção de valores conservadores. A Polônia é o país com mais católicos em todo mundo, proporcionalmente, em relação ao tamanho da população.
Já o liberal de centro-direita Trzaskowski, que dobrou as intenções de voto em apenas 45 dias, deve manter o discurso de recuperação da economia pós pandemia.
Mas as eleições trazem um elemento a mais para a comunidade europeia: a grande dúvida é se o partido de Duda, o Lei e Justiça (PiS) vai continuar no poder. A legenda é presidida por Jaroslaw Kaczynski, apontado como sendo o grande líder por trás do atual presidente. Durante os cinco anos de Duda no poder, o partido ganhou apoio popular ao criar o programa Family 500+, espécie de Bolsa Família polonês, que dá às famílias de baixa renda 500 złotys (526 reais), para cada criança, abaixo dos 18 anos de idade.
Mas Duda também adotou medidas que atacam as instituições democráticas. O sistema de Justiça foi reformado, com o partido limitando a ação do judiciário, empossando juízes conservadores e criando dispositivos para aplacar a atuação de magistrados independentes. Duda ainda proibiu aulas de educação sexual nas escolas, por considerar que elas atentavam contra os valores da família, e promoveu ataques deliberados à comunidade LGBT – a tal ponto de quase um terço dos municípios se declararem “áreas livres de gays”, na Polônia.
Em resposta, a União Europeia chegou a acionar o procedimento para a execução do Artigo 7° do Tratado de Lisboa, que pode resultar na perda do poder de voto no conselho do bloco. Nunca esse dispositivo havia sido utilizado antes. O processo, porém, não seguiu em frente, pois exigia uma votação unânime dos membros do bloco e os populistas poloneses contam com o apoio do governo do autocrata de extrema direita, Viktor Orbán, na Hungria.
Diante do contexto, o partido de Trzaskowski, o Plataforma Cívica, se tornou uma opção para que a União Européia retome um alinhamento com a Polônia. Resta saber se ele terá força para promover uma virada no país.