Com quase catorze meses de mandato, o presidente americano Donald Trump ainda não conquistou nada no mundo que possa ostentar a seu favor. Seu encontro previsto com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em maio, em nada avança nas negociações das últimas décadas.
Sua política externa não tem eixo ou continuidade. A diplomacia, geralmente ligada ao departamento de Estado, deu lugar aos tuítes e declarações intempestivas da Casa Branca. Um exemplo disso foi a demissão do secretário de Estado Rex Tillerson, na semana passada. “O departamento de Estado perdeu preeminência nas questões internacionais. tem sido mais a regra que a exceção que o Assessor de Segurança Nacional da Casa Branca e o embaixador junto à ONU falem sobre política externa”, diz o embaixador Rubens Ricupero, conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Mas os fracassos ao redor do mundo não necessariamente terão um impacto político negativo em Trump. O tema da política externa não pesa muito. “Na campanha presidencial, os eleitores de Trump não estavam seguros de que ele conseguiria conquistar algo, mas que pelo menos ele tentaria”, diz a americana especialista em opinião pública Karlyn Bowman, do American Enterprise Institute.
O que conta, em geral, é a economia. E ela tem favorecido Trump. O PIB cresce mais de 2% ao ano desde 2009. Em janeiro, o FMI até elevou sua previsão para o crescimento do PIB mundial, de 3,7% para 3,9%, motivado pelo corte de impostos com a reforma fiscal americana. Suas promessas de barrar imigrantes ou de elevar tarifas de importação do aço e do alumínio ainda não geraram consequências negativas. Nos dois primeiros meses do ano, foram acrescentadas 276 000 vagas de emprego ao mês, bem mais do que as 182 000 ao mês ao longo do ano passado. Desde que tomou posse, o desemprego caiu de 4,7% para 4,1%, um nível que os economistas consideram como de pleno emprego. Todos os que buscam uma vaga a encontram sem muita dificuldade e a economia está em sua plena capacidade. O valor pago pela hora trabalhada aumentou 3% ao longo de doze meses.
De cada dez americanos, sete consideram que a economia está em boa ou excelente forma, de acordo com pesquisa realizada pela universidade americana de Quinnipiac. “A economia está indo bem por causa de todos os estímulos que o ex-presidente Obama e o presidente da Reserva Federal empurraram na economia a partir de 2009”, diz Richard Parker, professor de Economia de Harvard. Dados da mesma pesquisa apontam que apenas 41% dos americanos responsabilizam Obama por esse crescimento, enquanto 48% dão o crédito a Trump.
Cerca de 75% desses classificam sua situação financeira como boa ou excelente e 51% aprova a maneira com a qual Trump está lidando com a economia.
A questão é se Trump conseguirá manter este crescimento por bastante tempo. Para Parker, medidas protecionistas e ameaças de deportações em massa de imigrantes ilegais poderiam colocar o crescimento em risco.
“A questão então será quão rápida a economia irá crescer com Trump. Ele acha que pode crescer de 3 a 4% por ano, eu acredito que pode crescer de 2 a 2,5% tendo em vista suas medidas”, diz Parker.