A Praça Tahrir, palco dos protestos contra o governo do Egito durante a Primavera Árabe, foi reinaugurada após uma reforma sob duras críticas de parte da população. Com monumentos faraônicos e seguranças particulares, autoridades dizem que o objetivo é embelezar um dos pontos mais importantes do Cairo, mas a população teme que o projeto aumente o controle sobre o espaço e dificulte futuras manifestações.
O governo egípcio diz que a praça foi “melhorada”, inspirada em famosas praças da Europa, como a Plaza de la Merced, em Málaga, na Espanha – reformada no início deste ano. O efeito grandioso da reforma, que inclui desde nova iluminação e prédios repintados até um obelisco de 19 metros de altura descoberto em um sítio arqueológico no delta do Nilo, chegou a atrair elogios nas redes sociais.
Contudo, críticos do novo regime, que em 2013 destituiu o primeiro presidente eleito livremente do Egito após o levante dois anos antes, dizem que a reforma conduzida pelo Centro de Embelezamento do Governo do Cairo pretende varrer para baixo do tapete os tempos tumultuosos e o derramamento de sangue anteriores. Segundo o órgão governamental, a reforma “expressa um retorno à aparência que tinha no início, antes da revolução”.
“A mensagem principal é que as pessoas não pertencem à praça e a praça não pertence às pessoas. Esta é uma praça que pertence ao Estado”, disse Khaled Fahmy, professor de História da Universidade de Cambridge que participou dos protestos de 2011.
Além do medo de que o projeto aumente o controle do espaço público pelo governo, alguns arqueólogos se preocupam com a preservação de quatro esfinges de arenito colocadas em uma rotatória movimentada.
As quatro estátuas de 3.000 anos de idade, com o corpo de um leão e a cabeça de um carneiro, vêm do templo de Karnak, na cidade de Luxor. Sua transferência para o Cairo foi condenada por arqueólogos e conservacionistas, que dizem que a poluição da cidade vai danificar os monumentos históricos.
Simbolismo político
A Praça Tahrir ficou conhecida mundialmente como o berço da revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak em 2011. Dois anos depois, manifestantes ocuparam a praça novamente para demandar a remoção do presidente Mohamed Mursi, eleito após a queda de Mubarak.
Mursi foi substituído por Abdel Fattah al-Sisi, o então chefe do Exército, e seus apoiadores enxergam sua ascensão ao poder como uma correção que permitiu a estabilização do Egito após a Primavera Árabe.
Segundo uma inscrição na base do obelisco instalado no centro da praça, o lugar passou a simbolizar a “firmeza” da população, representada pela revolução anticolonial em 1919 e os eventos de 2011, mas “tornou-se um símbolo dos egípcios e de sua liberdade na revolução de 30 de junho (2013)”.
A singela distinção sugere o pensamento oficial. Para os oponentes de Sisi e da reforma em Tahrir, 2013 marcou o início de uma repressão abrangente que encerrou a atmosfera de liberdade no país.
Em setembro do ano passado, protestos anti-Sisi desencadearam um bloqueio de segurança em torno da praça e uma onda de prisões. A fiscalização de pedestres dentro e ao redor da praça se tornaram mais comuns. Nas últimas semanas, guardas de segurança da empresa egípcia Falcon Group tornaram-se presenças constantes na região.