Egito elabora plano para Gaza que exclui tanto Trump quanto o Hamas
Comitê de tecnocratas substituiria organização terrorista no governo do enclave e reconstrução incluiria parceria com o Banco Mundial

O Egito anunciou nesta segunda-feira, 17, que elabora um plano para a reconstrução de Gaza e para o futuro do enclave, sob o qual o Hamas seria formalmente excluído do governo local. A proposta, em parceria com o Banco Mundial, se apresenta como alternativa à de Donald Trump – de transformar a Faixa de Gaza em uma “Riviera do Oriente Médio” de propriedade dos Estados Unidos.
Segundo o plano egípcio, o governo de Gaza seria entregue temporariamente a um comitê de apoio social ou comunitário, do qual nenhum membro do Hamas participaria. Ao invés disso, ele seria composto por tecnocratas independentes, representantes da sociedade civil e sindicatos, para garantir que nenhuma facção domine o processo. Mas o futuro status militar da organização terrorista não é mencionado, uma provável barreira ao apoio israelense.
Estados árabes — principalmente Emirados Árabes Unidos e Catar — estão se preparando para fazer ofertas financeiras para financiar a reconstrução do enclave devastado, mas com base no fato de que os palestinos não serão forçados a buscar refúgio temporário ou permanente no Egito ou na Jordânia (como sugeriu Trump). Com 65% das construções em Gaza destruídas, a reconstrução levaria de três a cinco anos.
A questão de fornecer garantias de segurança a Israel para Gaza continua, porém, sem solução. Nenhum país árabe está disposto a oferecer seus soldados, na ausência de um horizonte claro para a formação de um Estado palestino. Riade deve sediar uma cúpula árabe em 27 de fevereiro, na qual uma alternativa ao controverso plano de Trump deve ser discutida.
Até agora, a Arábia Saudita não pediu explicitamente que o Hamas fosse excluído do processo de reconstrução ou governança de Gaza, mas Anwar Gargash, um diplomata respeitado dos Emirados Árabes Unidos, chamou de “apropriado” um pedido recente de Ahmed Aboul Gheit, o secretário-geral da Liga Árabe, para que o grupo renuncie à administração de Gaza.
“Os interesses do povo palestino devem vir antes dos interesses do movimento (Hamas), especialmente à luz dos apelos para deslocar os palestinos de Gaza, e a guerra resultante que destruiu a Faixa de Gaza e rasgou seu tecido humano e social como resultado de suas decisões”, disse Aboul Gheit, depois de declarar que a proposta de Trump de retirar cerca de 2 milhões de palestinos de Gaza é “inaceitável” e empurraria o Oriente Médio para um ciclo de crises com um efeito prejudicial à paz e à estabilidade.
A Autoridade Palestina (AP), que governa a Cisjordânia, porém, não endossou o plano do Egito, temendo uma possível divisão permanente entre os territórios palestinos por meio de dois sistemas de governo separados.
Jibril Rajoub, do Fatah, partido que domina a AP, disse que o grupo se recusou a discutir a ideia do comitê, descrevendo-a como “um prelúdio para consagrar a divisão”, e enfatizou a adesão ao que chamou de “unidade do governo e do regime”.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, não descartou uma alternativa ao plano de Trump, mas ressaltou: “Qualquer plano que deixe o Hamas na Faixa de Gaza será um problema, porque Israel não tolerará isso.”