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“Ibrahim é perseguido político”, diz defensor de egípcio caçado pelo FBI

O advogado Ronaldo Vaz de Oliveira teme que Mohamed Ibrahim se torne o primeiro estrangeiro a enfrentar a portaria 666 de Sérgio Moro

Por Vinícius Novelli
Atualizado em 14 ago 2019, 17h36 - Publicado em 14 ago 2019, 17h18

Procurado para “questionamentos” pelo FBI por supostamente integrar o grupo terrorista Al Qaeda, o egípcio Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, residente no Brasil, é apresentado por seu advogado, Ronaldo Vaz de Oliveira, como perseguido político. A polícia federal americana, sustenta o defensor, se baseia em uma notícia do governo autoritário egípcio para acusar seu cliente.

Casado com uma brasileira, Ibrahim entrou no Brasil em 2017 após ter saído de seu país e vivido por um tempo na Turquia. Segundo o anúncio do FBI divulgado na segunda-feira 12, desde 2013 ele teria se envolvido, “supostamente, em atentados terroristas contra os Estados Unidos ou seus interesses”. Ele teria desempenhando o papel de “agente e facilitador” para o grupo terrorista fundado pelo saudita Osama Bin Laden, a Al Qaeda.

Oliveira discorda dessas acusações. A VEJA, ele argumentou que Ibrahim era filiado ao partido político Al-Gama’aal-Islamiya Egypt, sigla que fazia parte da base aliada do ex-presidente Mohamed Morsi, eleito em 2011 e derrubado por um golpe militar dois anos depois. Morsi era amplamente apoiado também pela Irmandade Islâmica, entidade radical. Conforme explicou o advogado, Ibrahim tornou-se um dos alvos de perseguição do regime instaurado no Egito. Morsi morreu na cadeia em junho deste ano em condições questionadas por opositores e por grupos de defesa de direitos humanos.

O partido Al-Gama’aal-Islamiya Egypt foi designado como grupo terrorista pelos Estados Unidos em 1997, e só no ano passado  foi colocado na ilegalidade pelo atual governo egípcio, presidido pelo general Abdul Fatah Sisi.

“[Ibrahim] nunca teve envolvimento [com terrorismo]. É difícil contestar algo que não existe”, disse o advogado Ronaldo Vaz de Oliveira.

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Oliveira teme que Ibrahim seja um dos primeiros estrangeiros a enfrentar a portaria 666, assinada pelo ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro.  O texto que autoriza a deportação sumária de pessoas consideradas “perigosas” em até 48 horas e sem necessidade de sentencia condenatória. A deportação sumária, como descrita na portaria, baseia-se em diversas fontes, inclusive órgãos de inteligência estrangeiros.

“Ele se enquadra nessa portaria por que é um órgão internacional (o FBI, no caso) que faz essas alegações pedindo a expulsão ou deportação sumaria sem processo judicial. Isso fere a Constituição (…) É uma portaria que eu espero que não se inaugure com meu cliente”, afirmou.

Devido a aproximação do governo brasileiro com a administração do presidente americano, Donald Trump, Oliveira teme que qualquer decisão sobre a situação de Ibrahim seja regida mais por interesses políticos do que pelos ritos legais. “Esperamos do governo brasileiro que ele tenha o devido cuidado para não expor a vida de um estrangeiro legal em risco”, disse.

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Em nota conjunta do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o governo brasileiro diz estar aberto a cooperar com as autoridades americanas “no que for solicitado, nos termos de nossa legislação”.

O advogado afirmou que Ibrahim está à disposição da Polícia Federal para prestar esclarecimentos, mas ao ser perguntado quando ele iria se encontrar com às autoridades, limitou-se a dizer que a data está marcada para esta semana.

“A gente pretende ir até as últimas consequências e tomar todos os meios legais cabíveis para provar sua inocência. Vamos provar os fatos para que ele viva seguro no Brasil”, afirmou.

 

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