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Eleições na Espanha: Socialistas lideram, mas extrema-direita avança

Partido do primeiro-ministro Pedro Sánchez novamente não consegue formar coalizão; espanhóis foram às urnas pela quarta vez em quatro anos

Por da Redação
Atualizado em 11 nov 2019, 02h01 - Publicado em 10 nov 2019, 18h51

O atual primeiro-ministro e líder socialista espanhol, Pedro Sánchez, lidera, sem maioria absoluta, as eleições legislativas deste domingo, 10, na Espanha. O partido de extrema-direita Vox tornou-se a terceira força do parlamento, que deve permanecer bloqueado já que não será possível formar coalizão para governar.

Segundo o jornal espanhol El Pais, com cerca de 96% dos votos contados, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Sánchez é o vencedor com 120 cadeiras das 350 da Câmara Baixa, três a menos do que havia conquistado nas eleições de abril.

O Vox teve o maior crescimento, capitalizado pela crise da Catalunha, somando 52 assentos, mais do que o dobro em comparação aos 24 conquistados em abril.

O conservador Partido Popular (PP) também ganhou espaço, passando de 66 assentos para 88, enquanto o Cidadãos, partido de centro-direita liberal, foi pulverizado, caindo de 57 deputados para somente 10. A esquerda radical do Podemos ficou com 35 deputados e sua cisão Mais País entra na Câmara com 3 cadeiras.

Em qualquer caso não há maioria absoluta nem para o bloco da direita (PP, Vox e Cidadãos) nem para a esquerda (PSOE, Podemos e Mais País), que no total superam os conservadores.

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O panorama pode prolongar o crônico bloqueio que atinge a política espanhola desde 2015, quando o surgimento do Podemos e do Cidadãos pôs fim ao tradicional bipartidarismo PSOE/PP. Desde então houve quatro eleições legislativas, governos fracos e pouca legislação no Parlamento de um país que agora enfrenta sinais sérios de desaceleração econômica. A eleição desse domingo se deveu ao fracasso do PSOE e do Podemos de fechar um governo de coalizão.

Parlamento fragmentado

Até 2015, a Espanha foi governada pelo PSOE e PP, que se se revezavam no poder. Porém, a partir das eleições de 20 de dezembro de 2015, nenhum governo conseguiu se eleger com maioria e desde então os partidos precisam negociar para formar coalizões e governar. 

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Já não basta seduzir apenas partidos de seu próprio espectro político, e insistir no modelo bipartidarista provavelmente não vai resgatar o país do impasse.

“A estabilidade eleitoral foi abalada pela crise econômica de 2008 e pelos protestos de 15 de maio”, diz Alejandro Tirado, professor de ciência política na Universidade Carlos III de Madrid, referindo-se ao movimento de 2011 contra a hegemonia dos dois partidos e a favor de maior divisão dos poderes. Nas eleições de abril de 2019, a fragmentação cresceu ainda mais. PSOE e PP conseguiram 43% dos votos contra os mais de 47% dos outros partidos. 

A fragmentação foi marcada também pelo fortalecimento do Unidas Podemos e do liberal Cidadãos, que no último pleito elegeu 57 parlamentares.

Ascensão da extrema direita

Mais recentemente, a Espanha observou um fenômeno sem precedentes: nas eleições de abril deste ano, o Vox se tornou o primeiro partido da extrema direita a se eleger para o Parlamento desde o fim da ditadura de Francisco Franco, em 1975.

Antifeminista, anti-separatismo e anti-imigração, o Vox é a legenda que mais cresce, com um aumento de 9% para 14% das intenções de voto desde setembro. Como um bom partido populista, possui um eleitorado convicto: cerca de 85% dos que votaram na legenda em abril tendem a repetir o ato neste domingo, segundo estudo do instituto de pesquisa espanhol 40dB.

“Mesmo que não se tornem a chave do governo, o estrago já está feito. O Vox obteve representação com um programa quase indistinguível de um partido fascista de quase um século atrás”, afirma Carolina Galais, cientista política da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB).

Além de uma base sólida, o partido de Abascal também tem atraído votos do eleitorado mais amplo da direita. Segundo o 40dB, o Vox pode converter até 17% dos eleitores do PP e 14% daqueles que votaram no Cidadãos no último pleito. E, atrás do PSOE, é a segunda legenda que mais conta com apoio daqueles que se abstiveram em abril.

Ismael Blanco, professor do Instituto de Governança e Políticas Públicas de Barcelona, diz que o crescente apoio à extrema direita pode levar as demais legendas a adotar pautas mais radicais, como a maior repressão aos movimentos independentistas na Espanha, para atrair eleitores. 

“Não apenas o PP e o Cidadãos, mas o PSOE também, estão endurecendo sua posição contra o separatismo da Catalunha”, diz Blanco.

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Economia desacelerada

Durante a campanha, Sánchez cumpriu uma de suas promessas realizadas pouco depois de chegar ao poder, em junho de 2018: exumar os restos do ditador Francisco Franco do mausoléu onde estavam desde sua morte em 1975.

Pouco se falou, por outro lado, de economia, apesar dos recentes indicadores que apontam para uma desaceleração na quarta potência do euro. Por exemplo, a Comissão Europeia cortou nesta semana em quatro décimos as previsões de crescimento para 2019 e 2020, a 1,9% e 1,5%.

O crescimento do PIB espanhol continuará, no entanto, acima da média da Eurozona, embora o analista Holger Schmieding, do banco alemão Berenberg, alerte que essa vantagem “caminha para diminuir nos próximos trimestres, a menos que um novo governo consiga enfim desativar o problema catalão e retomar as reformas favoráveis ao crescimento”, algo “improvável” por enquanto.

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Atualmente a Espanha continua com os orçamentos prorrogados de 2018, elaborados pelo anterior governo do PP.

(Com AFP)

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