À primeira vista, o segundo turno da eleição na França, em 24 de abril, será uma repetição de 2017: o presidente centrista Emmanuel Macron enfrentará a ultradireitista Marine Le Pen. Ele saiu do primeiro turno com 27,8% dos votos e ela, com 23,1%. O novo duelo parece ter decretado a morte dos partidos Republicano e Socialista, as duas forças que moveram o país durante décadas e minguaram. É provável que Macron vença, mas há uma sombra incômoda: o avanço dos extremos políticos abaixo de sua candidatura, segundo e terceiros colocados. O Reagrupamento Nacional, a antiga Frente Nacional, de Le Pen, e o partido esquerdista de Jean-Luc Mélenchon obtiveram, na soma, 45,1% dos votos. Os opostos se unem na implicância com a Otan e a União Europeia e no apoio (agora envergonhado) a Putin. Houve ainda abstenção de 26%, a maior em vinte anos. Macron, o novato que há cinco anos aglutinou a maioria do país contra o discurso nacionalista de Le Pen e a submeteu a uma derrota acachapante, agora sofre para se manter no topo. Há rejeição dos eleitores, em parte por ter dedicado tempo em demasia a tratar da invasão da Ucrânia pela Rússia, postura que julgava poder ajudá-lo a se reeleger. Agradecendo os votos no primeiro turno, ele voltou à tecla de que é a opção de “uma França integrada a uma Europa forte”, em contraposição a “uma França fora da Europa, que tenha como única aliada a Internacional populista e xenofóbica”. Insista-se: Macron caminha para o segundo mandato. Mas que a França está ganhando uma nova cara, está. Convém ficar atento.
Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785