Em Davos, Bolsonaro sinaliza com respeito do Brasil ao Acordo de Paris
Presidente irrita ambientalistas ao dizer que área ocupada pela agricultura e pecuária é menor do que a das florestas tropicais do Brasil
Ao se defrontar com as preocupações com a agenda de sustentabilidade de seu governo vindas da plateia do Fórum Econômico Mundial, o presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta terça-feira, 22, em Davos, o casamento do meio ambiente com o desenvolvimento econômico e alegou que, como 30% do território brasileiro é composto de florestas, o país “dá o exemplo para o mundo” nesse tema.
“O meio ambiente tem que estar casado com o desenvolvimento, nem para um lado, nem para o outro”, afirmou Bolsonaro, para em seguida repetir que o “agronegócio” ocupa 9% do território nacional, e a “pecuária”, menos de 20%. “No que pudermos nos aperfeiçoar, nós faremos, e nós pretendemos estar sintonizados na busca da diminuição da emissão de CO2 (gás carbônico) e na preservação do meio ambiente”.
Sua menção à redução das emissões de gases do efeito estufa chegam a emitir um sinal positivo para seu governo. Em especial, depois da promessa de campanha de Bolsonaro de retirar o Brasil do Acordo de Paris sobre Mudança Climática e de sua iniciativa de cancelar o compromisso do Brasil de sediar a Conferência de 2019 sobre o tema.
Mas não chegou a convencer totalmente os ambientalistas, que contestaram as declarações de Bolsonaro sobre o casório entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, segundo o jornal The Guardian. Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace International, afirmou que a atitude do novo presidente em relação à Amazônia representa uma grande ameaça ao meio ambiente.
Para ela, dar mais controle ao Ministério da Agricultura em relação à política de preservação das florestas tropicais é “incrivelmente preocupante” e pode prejudicar também a população indígena que vive na Amazônia. Morgan desafiou empresários a levantar essas questões contra Bolsonaro e a pressioná-lo a “priorizar o bem-estar da floresta acima de ganhos a curto prazo”.
Nicholas Stern, presidente do Instituto de Pesquisa Grantham sobre Mudança Climática e Meio Ambiente, também foi enfaticamente contrário às declarações do presidente: “Bolsonaro foi eleito com base em um programa para lidar com a violência e a criminalidade, que matam entre 40 e 50 mil pessoas ao ano. Minha aposta é de que 100 mil morrerão pela poluição do ar”.
Stern disse ter reforçado a necessidade de proteção das matas brasileiras para o ministro da Economia Paulo Guedes, em Davos. Apesar do destaque à questão ambiental sempre presente na agenda do Fórum, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, não foi convidado para a comitiva do líder brasileiro em sua primeira viagem internacional.
Também questionado sobre sua “relação dinâmica” com os parceiros latinos, Bolsonaro voltou a atacar o regime do venezuelano Nicolás Maduro e defendeu a “soberania” dos países da região, como se estivesse ameaçada pelo projeto bolivariano.
Relatou ter conversado com os presidentes da Argentina, Maurício Macri, e do Chile, Sebastián Piñera, sobre sua preocupação de “fazer uma grande América do Sul”. “Não queremos uma América bolivariana, como há pouco no Brasil.”
Também mencionou, de forma decepcionante, o Mercosul. “Alguma coisa deve ser aperfeiçoada (no bloco). Já conversei com o presidente da Argentina, Macri. Foi uma boa conversa”, afirmou, sem apresentar que tipo de aperfeiçoamento pretende fazer no livre-comércio entre os sócios do Mercosul e na sua união aduaneira.
Bolsonaro usou apenas seis dos dez minutos de que dispunha para seu pronunciamento, esperado especialmente por potenciais investidores estrangeiros e formadores de opinião do mundo inteiro. Preferiu destacar sua iniciativa de “resgate de valores” e sobre seu objetivo de aprofundar laços de amizade e relações comerciais. Mas não chegou a se aprofundar em nenhuma de suas respostas à plateia.
Seu discurso era cercado de muita expectativa em um Fórum Econômico Mundial esvaziado, com a presença de apenas três líderes do G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo: o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o premiê italiano, Giuseppe Conte.
Protagonistas do cenário mundial, como o presidente americano Donald Trump, a primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente francês, Emmanuel Macron, cancelaram suas participações para lidar com crises econômicas e sociais domésticas. Líderes de potências emergentes, como o presidente da China, Xi Jinping, e o russo Vladimir Putin também não compareceram ao encontro de Davos.