Em documento a Paulo Guedes, Rússia pede ajuda do Brasil contra sanções
Em carta obtida pela agência Reuters, ministro das Finanças russo cita 'tentativas de discriminação em instituições financeiras internacionais'
A Rússia pediu o apoio do Brasil no Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e G20 para conter as debilitantes sanções impostas pelo Ocidente em resposta à invasão da Ucrânia, de acordo com uma carta obtida pela agência de notícias Reuters.
De acordo com a agência, o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, escreveu ao ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, pedindo apoio brasileiro “para impedir acusações políticas e tentativas de discriminação em instituições financeiras internacionais e fóruns multilaterais”.
“Nos bastidores, uma iniciativa está em andamento no FMI e no Banco Mundial para limitar ou mesmo expulsar a Rússia de processos decisórios”, afirmou Siluanov no documento.
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O documento, que não menciona a invasão à Ucrânia ou o conflito em andamento, data de 30 de março e foi entregue ao ministro brasileiro na quarta-feira 13 pelo embaixador russo em Brasília. Procurado pela Reuters, o secretário de Assuntos Econômicos Internacionais no Ministério da Economia, Erivaldo Gomes, indicou que Brasília gostaria que Moscou continuasse a fazer parte das discussões em organizações multilaterais.
“Do ponto de vista do Brasil […], manter o diálogo aberto é essencial”, disse Gomes. “Nossas pontes são as entidades internacionais e nossa avaliação é que elas precisam ser mantidas.
Embora o Brasil tenha votado a favor de resoluções contra o governo russo na Organização das Nações Unidas, o governo segue uma estratégia de tentar evitar críticas diretas para aliviar possíveis impactos econômicos, sobretudo no setor agrícola.
Na semana passada, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, o chanceler Carlos França afirmou que o Brasil poderia atuar como mediador para encerrar o conflito e voltou a criticar sanções econômicas aplicadas aos russos.
“O Brasil tem credenciais para ser mediador. Somos membros do Brics [bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], somos um ator global, com tradição democrática, e temos uma diplomacia que se construiu ao longo de 200 anos como formadora de consensos e voz sempre respeitada na ONU”, disse o ministro aos senadores.
Sobre as sanções, mesmo reconhecendo que a agressão da Rússia ao país vizinho é inadmissível, disse que as medidas econômicas são seletivas e prejudicam países fornecedores de alimentos, como o Brasil, que tenta conseguir fertilizantes.
“Eu até entendo o uso de sanções pela Europa e pelos EUA. No entanto, não posso deixar de estranhar a seletividade das sanções”, afirmou França. “Sanções tendem a preservar interesses imediatos de um pequeno grupo de países e prejudicam quem mais depende de importação de alimentos e tem menor capacidade financeira.”