Faltando poucas horas para o primeiro turno das eleições no Chile, nada nas ruas indica que o país esteja prestes a escolher o próximo presidente. Há pouco movimento na capital. Não há carros de som, cartazes ou panfletos. Os turistas desavisados nem imaginam que neste domingo, quatro anos depois de eleger Michelle Bachelet, o Chile deve repetir a mesma dança do final do primeiro mandato da socialista, em 2010, quando escolheu o centro-direitista Sebastián Piñera para sucedê-la.
O milionário ex-presidente, que governou o país até 2014, lidera as intenções de voto, com 34,5%, segundo o Centro de Estudos Públicos (CEP). É uma posição confortável que, embora não evite uma decisão no segundo turno, limitará fortemente as chances de uma reviravolta.
Parte do marasmo em relação ao pleito é resultado da mais recente legislação eleitoral, de 2015, que estabeleceu limites para os gastos em campanhas e proibiu a propaganda nas ruas.
Outra parte da responsabilidade está na legislação que acabou com o voto obrigatório. Dos 14,3 milhões de convocados a votar este ano, apenas 6,5 milhões – 45% do total – devem comparecer às urnas, segundo a expectativa do governo.
Na eleição presidencial de 2013, a primeira com voto facultativo e que abriu um segundo mandato para Bachelet, apenas 41% dos chilenos foram votar. Mais tarde, o baixo comparecimento gerou problemas de legitimidade para Bachelet. Como teve 62% dos votos, na prática ela só contou com o apoio de 26% dos eleitores. Uma simples análise matemática levaria à conclusão de que a presidente deveria ir devagar com o andor, uma vez que a maioria dos eleitores não depositou nela suas esperanças. Não foi o caso. Desde seu primeiro dia na volta ao palácio La Moneda, Bachelet perseguiu uma intensa agenda de reformas, o que desagradou boa parte da população.
Em Santiago, não se vê uma única pessoa com camiseta de partido político, nem se ouvem comentários sobre os candidatos. “O desinteresse é geral, não vemos chances reais de mudar alguma coisa”, diz a universitária Eloisa Alberdi, de 21 anos, que pretende votar na senadora Carolina Goic. A candidata ocupa a quarta posição na corrida eleitoral, com apenas 5% das intenções, e é dirigente do Partido Democrata Cristão, que integrou a coalizão que apoiou Bachelet. Questionada se a senadora governista representa a mudança desejada, Eloisa, com um suspiro conformado, diz apenas que “ela ao menos tem caráter”.
“No segundo turno, vou votar em branco”, completa Eloisa, referindo-se ao cenário mais provável, entre Piñera e o jornalista e senador Alejandro Guillier, que tem 17,5% das intenções.
A estudante não é a única a destacar um desapontamento geral com os candidatos, sentimento que explica o grande número de indecisos. A vendedora Marcela Miranda, de 48 anos, pretende votar amanhã, mas ainda não tem certeza de em quem vai depositar sua confiança. “Acho que no Piñera”, diz. Para ela, a única certeza é que o próximo presidente precisa romper com políticas implantadas por Bachelet. “A questão dos imigrantes para mim, é uma das mais críticas. A da educação também é muito séria”, diz, referindo-se ao aumento do número de refugiados que chegam no país e à reforma educacional, umas das principais promessas de campanha da presidente.