Em G20 da discórdia, premiê britânico quer ser ‘ator responsável em mundo volátil’
Keir Starmer, primeiro líder do Reino Unido a visitar o Brasil em 12 anos, planeja postura pragmática com rivais 'de acordo com os interesses nacionais'
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, chegou ao Brasil no domingo 17 para se reunir com os líderes do G20. Segundo a embaixada britânica, nesta cúpula que ocorre no contexto de um mundo cada vez mais volátil, Starmer pretende ser um “ator responsável” e buscar pragmatismo em meio às desavenças entre o heterogêneo grupo das vinte maiores economias do mundo.
Exemplo da postura foi seu encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, nesta segunda-feira, 18, às margens do G20. Uma das principais rivais dos Estados Unidos e, por tabela, de seus aliados mais chegados, a China representa uma ameaça pelo seu poderio econômico e militar, que cresce a um ritmo mais acelerado – ainda que não tanto quando há dez anos – do que as economias ocidentais. Pequim é competitiva na revolução digital, confeccionando softwares de IA e os semicondutores que alimentam tudo (de computadores e smartphones a armas avançadas), e lidera a produção de tecnologias essenciais para a inevitável transição verde, como baterias de lítio para carros elétricos e turbinas eólicas.
“O governo busca um compromisso estável, sensato e pragmático com a China, de acordo com os interesses nacionais do Reino Unido”, afirmou a embaixada britânica em comunicado. “Sob a minha liderança, o Reino Unido será um ator responsável neste momento de crescente volatilidade no mundo, assegurando, ao mesmo tempo, que a nossa diplomacia seja benéfica para o povo britânico.”
Como dois integrantes permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unida, Starmer reiterou que é “mais do que justo” que o Reino Unido colabore com a China de forma pragmática quando houver áreas evidentes de cooperação mútua. Ele citou estabilidade internacional, clima e crescimento econômico como exemplos.
Ao mesmo tempo, o premiê prometeu ser firme e franco sobre temas em que há desacordo com Pequim, competindo e divergindo quando necessário.
“É do interesse do Reino Unido se envolver com temas do cenário internacional, seja para construir parcerias fortes e frutíferas com os nossos aliados mais próximos ou para sermos francos com aqueles que têm valores diferentes dos nossos”, afirmou Starmer.
Guerra na Ucrânia
Durante seu discurso na abertura da cúpula do G20, espera-se que o chefe de Estado britânico destaque a “invasão brutal” da Ucrânia pela Rússia, que atingiu a marca de mil dias na terça-feira, 19. Ele deve apelar aos países do grupo para reforçarem o seu apoio a Kiev e agirem mais depressa, sob o risco de enfrentarem “consequências inimagináveis” caso não o façam e o líder russo, Vladimir Putin, seja bem-sucedido.
“No momento em que se completam mil dias desde a invasão ilegal da Ucrânia por Putin, farei tudo o que estiver ao meu alcance para apoiar a Ucrânia, que continua a defender corajosamente a sua soberania”, declarou ele.
Um consenso a respeito da linguagem a ser usada ao fazer referência ao conflito na Ucrânia ainda trava a declaração final da cúpula, já que a delegação russa está presente no evento, sob a liderança do chanceler Sergey Lavrov.