Em novo cerco, Trump planeja aplicar multas diárias contra imigrantes com ordem de deportação
Medida, que tem como base uma lei de 1996, foi aplicada anteriormente pelo presidente dos EUA em seu primeiro mandato

O governo dos Estados Unidos planeja confiscar imóveis e impor multas diárias de US$ 998 a imigrantes com ordens de deportação, informou a agência de notícias Reuters nesta terça-feira, 8. A medida, que tem como base uma lei de 1996, foi aplicada anteriormente pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em seu primeiro mandato, mas foi bloqueada um ano após Joe Biden chegar à Presidência.
Em 2018, o republicano lançou penalidades de centenas de milhares de dólares contra nove imigrantes que usavam igrejas como abrigo. Mais tarde, a administração Trump cancelou a decisão, mas depois prosseguiu com multas menores de cerca de US$ 60 mil por pessoa contra quatro deles. Elas foram bloqueadas e políticas similares foram rescindidas em 2021, durante o governo democrata.
Scott Shuchart, um alto funcionário do Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) nos anos Biden, disse que os migrantes e seus apoiadores poderiam contestar as multas na justiça. No entanto, a sensação de perigo, segundo ele, veio para ficar. Shuchart afirmou à Reuters que o “objetivo deles não é realmente fazer cumprir a lei, mas sim projetar medo nas comunidades”.
O Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca e Stephen Miller, vice-chefe de gabinete de políticas, pressionam o Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP, na sigla em inglês) a assumir a empreitada, ficando responsável por administrar as multas e lidar com as apreensões. O CBP, por sua vez, alega que o ICE deve controlar o plano, uma vez que a agência não teria especialistas o suficiente para atender à nova demanda, como mostra uma série de e-mails obtidos pela Reuters.
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Cerco ampliado
De volta à Casa Branca, Trump agora amplia o cerco contra imigrantes — um dos seus motes de campanha, que incluíam apelos para o aumento da segurança na fronteira. Agora, o presidente americano deseja aplicar mutas por até cinco anos retroativos, o que pode resultar em valores de mais de US$ 1 milhão, disse um alto funcionário de Trump, sob condição de anonimato, à Reuters.
Ao mesmo tempo, Washington avalia tomar propriedades, agravando o cenário para as famílias. Dados do grupo de defesa da imigração FWD.us apontam que cerca de 10 milhões de imigrantes em situação irregular vivem com cidadãos americanos ou residentes permanentes, de forma a compor “famílias de status misto”.
Ao mesmo tempo, as penalidades podem atingir uma camada particularmente vulnerável dos moradores dos Estados Unidos. Uma análise do Censo de 2019, conduzida pelo apartidário Migration Policy Institute, descobriu que 26% das famílias com imigrantes ilegais tinham renda abaixo da linha federal de pobreza. Segundo Trump, pessoas com ordens finais de deportação devem ser uma prioridade, embora muitas tenham empregos, relacionamentos, filhos e laços firmados no país.