A ascensão do jovem candidato Emmanuel Macron na política francesa se assemelha à de um anticorpo gerado pelo sistema como vacina contra o perigo existencial que paira sobre ele: a ultradireitista Marine Le Pen.
Segundo pesquisas de boca de urna, os dois vão se enfrentar no segundo turno das eleições presidenciais da França, em 7 de maio. Outros sete candidatos ficaram para trás na eleição deste domingo 23.
Jovem, bonito e inteligente, com aspecto de genro perfeito e ex-ministro de Economia, Macron se transformou, aos 39 anos, no favorito para presidir a França durante os próximos cinco anos — Macron venceria o segundo turno contra todos os demais candidatos, segundo apontaram as pesquisas.
Seria preciso investigar muito para encontrar precedentes do fenômeno “macronista” nas democracias ocidentais.
Há um ano, ele ainda era um quase desconhecido ministro de Economia que tinha conseguido desenvolver apenas uma tímida lei liberalizadora. Se Macron buscava alguma coisa desde que entrou no governo socialista, em agosto de 2014, era ter uma voz própria.
Isso lhe permitiu discordar em assuntos centrais como a reforma da Constituição impulsionada pelo presidente François Hollande — e que encalhou no Parlamento — para retirar a nacionalidade francesa dos condenados por terrorismo.
A contínua procura por um perfil diferenciado, à direita do Partido Socialista, mas com preocupações sociais e cosmopolitas que o afastam dos conservadores, converteu Macron em uma entidade estranha na política francesa: um liberal.
E assim, de passagem, se erigiu na nêmesis quase perfeita de Le Pen. Dois “intrusos” com visões opostas. Protecionismo e recolhimento (ela) frente a multiculturalismo e abertura (ele).
Filho de dois médicos de Amiens, no norte do país, Macron se formou no grande reduto gaulês de cargos públicos, a ENA (Escola Nacional de Administração), onde se misturou a uma geração que hoje ocupa importantes cargos estatais.
Após completar seus estudos, começou a trabalhar como inspetor de finanças, antes de desembarcar no banco de investimentos Rothschild em 2008, do qual chegou a ser sócio.
Esse trabalho lhe valeu o rótulo de “amigo das finanças” entre seus rivais, apesar de ele insistir que é precisamente isso o que lhe distingue dos políticos profissionais que viveram toda sua vida do dinheiro público.
“Não quero fazer carreira política, não estarei aqui durante 15 anos”, disse em um recente encontro em Paris com mulheres.
Convencido de que “a política é uma droga dura”, entrou no Palácio do Eliseu de Hollande como secretário-geral adjunto, onde foi o arquiteto das primeiras reformas econômicas impulsionadas pelo presidente socialista.
Sua intenção de rumar solitário ficou clara há um ano com o nascimento do movimento político “Em Marcha”, plataforma inspirada na campanha de Barack Obama nos Estados Unidos, após sair do governo socialista em agosto.
Músico talentoso (ganhou prêmios como pianista no conservatório de Amiens) e leitor de filosofia, sua presença na mídia francesa se estendeu aos tabloides por sua peculiar história de amor com Brigitte Trogneux, sua antiga professora no colégio e 24 anos mais velha que ele.
(Com a agência EFE)