Encontro entre Vieira e Rubio hoje na Casa Branca vai testar ‘química’ de que tanto se fala
Os chefes da diplomacia do Brasil e dos EUA se reúnem às 14h locais (15h em Brasília), e devem abordar tarifaço e sanções impostas a autoridades brasileiras
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, vai à Casa Branca nesta quinta-feira, 16, para reunir-se com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio. Segundo o governo americano, o encontro está marcado para as 14h locais (15h em Brasília).
O objetivo deste primeiro encontro é preparar o terreno para uma futura reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu homólogo americano, Donald Trump. O cara-a-cara ainda não foi definido — pode ocorrer na Malásia, no Brasil ou nos Estados Unidos — mas, pelo menos nas aparências, sobra boa vontade entre os líderes.
Vieira e Rubio devem combinar os temas que serão discutidos entre os seus chefes, mas também já começar a testar a “química” de que tanto se fala, ao discutirem a sobretaxa de 40% dos Estados Unidos, que o Brasil tenta reverter, e a possível retirada das sanções a autoridades brasileiras.
Do lado de Washington, há interesse nos minerais críticos do Brasil, um dos poucos países capazes de oferecer lítio, nióbio e terras raras em escala, insumos fundamentais para a transição energética global e para reduzir a dependência da China, que hoje controla cerca de 70% da produção mundial desses minerais. Também quer regras mais favoráveis às big techs americanas — um ponto sensível. O Brasil vinha preparando um projeto de lei para estabelecer limites à moderação de conteúdo em plataformas digitais. Nos Estados Unidos, porém, regras desse tipo despertam resistência das empresas de tecnologia.
Para Brasília, “tudo está sobre a mesa”, desde que as conversas se limitem ao comércio. O governo Lula deixou claro que não haverá concessões em temas políticos, como a pressão americana para favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro em processos judiciais. Essa parte é considerada “fora de questão”.
O convite partiu de Rubio, que telefonou na última quinta-feira 9 para Vieira e convidou o chanceler para uma reunião presencial. Isso ocorreu depois que Lula e Trump conversaram durante meia hora por telefone, estabelecendo finalmente um canal de comunicação que começou a ser aberto, no fim de setembro, quando os dois trocaram cumprimentos por trinta segundos nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas (e o americano disse que sentiu uma “química excelente”).
O clima está otimista. Mas, depois de várias semanas sem ninguém ligado à Casa branca tocar no assunto, na véspera do encontro Vieira-Rubio, duas autoridades americanas voltaram a falar sobre censura e violações ao Estado de Direito no Brasil: Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, que indicou que o tarifaço está ligado a “preocupações extremas com o Estado de Direito, a censura e os direitos humanos no Brasil”; e Scott Bessent, secretário do Tesouro, que afirmou que houve “detenção ilegal de cidadãos americanos que estavam no Brasil”, sem dar nenhum detalhe.
Além disso, não se sabe como Marco Rubio vai se comportar. Outros líderes convidados à Casa Branca anteriormente, como o ucraniano Volodymyr Zelensky e o sul-africano Cyril Ramaphosa, foram pressionados, constrangidos e humilhados. E o secretário de Estado integra a ala ideológica do governo e tem avançado com força sobre o Brasil em defesa da “liberdade de expressão”.
No comando da política externa americana, filho de imigrantes cubanos e ferrenho anticastrista, sua mira recai sobre países “hostis” comandados pela esquerda, em especial na América Latina, que, segundo ele, estaria sob influência cada vez maior da rival China. No caso específico do Brasil, o secretário liderou uma represália ao programa Mais Médicos, que teve massiva participação de cubanos durante a gestão Dilma Rousseff. Rubio também defendeu publicamente a aplicação da Lei Magnitsky a Alexandre de Moraes: “Que seja um aviso para aqueles que atropelam os direitos fundamentais de seus compatriotas — as togas judiciais não podem protegê-los”.
Mas quem manda não é Rubio, e sim Trump. Até aqui, o americano, em suas diferentes versões, tem servido de trampolim ao petista. Nada que não possa ser implodido de uma hora para outra, já que o presidente, como se sabe, é completamente imprevisível.







