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Enquanto Brasil sofre com limitação, Wuhan testa 11 milhões de habitantes

Cidade chinesa onde pandemia começou quer testar toda a sua população em 10 dias; no Brasil, houve apenas 2,3 exames por 1.000 pessoas

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 Maio 2020, 13h25 - Publicado em 14 Maio 2020, 12h45

Wuhan, a cidade chinesa onde a pandemia de coronavírus começou, anunciou recentemente planos para testar todos os seus 11 milhões de cidadãos. Cada um dos treze distritos da cidade deverá preparar seus próprios exames, que serão realizados com uma nova tecnologia que usa ácido nucleico. Enquanto isso, a limitação na realização de testes para confirmar os casos de Covid-19 no Brasil dificulta a avaliação do quadro real da evolução da doença no país.

Por aqui, o Ministério da Saúde afirmou que, até esta terça-feira 12, já foram realizados 482.743 testes moleculares para o coronavírus, total ainda distante dos  24 milhões de exames prometidos pelo governo para enfrentar a pandemia. Além desses, há outros 95.000 em análise nos laboratórios e 50.000 aguardando o resultado.

Sabe-se que a quantidade de kits disponíveis atualmente é insuficiente para o tamanho da população brasileira. Os governos estaduais e municipais se desdobram para comprar e importar testes de outros países, já que a produção nacional ainda é limitada. A China, porém, é uma das principais fabricantes dos reagentes e kits e, apesar do reforço de sua produção, tem dosado suas exportações para atender a prioridade doméstica.

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O país que mais testa é a Dinamarca, com mais de 57 exames por 1.000 cidadãos, seguido pela Nova Zelândia, com 40,8 testes a cada 1.000 pessoas. As duas nações já declararam vitória contra o vírus em seus territórios. No caso do Brasil, com base nos dados do Ministério da Saúde, a proporção é de 2,3 testes por grupo de 1.000 habitantes.

Em uma reunião por videoconferência da comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate ao coronavírus, na semana passada, o vice-presidente de Produção e Inovação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marco Krieger, informou que a capacidade de produção de testes moleculares pela entidade foi ampliada de 58.000, em março, para 1,2 milhão de testes em abril. Para maio, a expectativa é a produção de 2,4 milhões de testes moleculares. Porém, superada a dificuldade de ampliar a capacidade produtiva – com a possibilidade de realização de 10.000 testes por dia no país -, haverá outros gargalos.

Em primeiro lugar, segundo Krieger, é preciso formular uma estratégia para a testagem da população, que aponte os grupos prioritários. Depois, será necessário desenvolver sistemas de coleta e logística para que as amostras cheguem às centrais da Fiocruz de análise dos testes. No Rio de Janeiro, um dos estados mais afetados pelo coronavírus, há cinco unidades de análise.

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O coordenador de Vigilância em Saúde da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha, acrescentou que outro gargalo é o processamento das amostras tanto em laboratórios públicos quanto privados. Segundo Cunha, processo de passar o material coletado do tubo de coleta (amostra primária) para um tubo menor (amostra secundária), que será inserido no equipamento de análise, é muito delicado e expõe os trabalhadores ao risco de infecção. Isso exige a contratação de muita mão de obra especializada, além de espaço físico.

Outro problema, apontou Cunha, é a exigência legal de que a amostra venha acompanhada do CPF do paciente. Ele alertou que a maior parte da população não tem carteira de motorista com CPF e não tem condições de acessar o número quando está passando mal.

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Presidente da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik destacou que cerca de 15 laboratórios privados também já realizam testes moleculares. Ele estima que de 20.000 a 25.000 exames estejam sendo analisados por dia nesses laboratórios. Entretanto, chamou atenção para o gargalo do compartilhamento de informações com as secretarias estaduais e municipais de Saúde. Segundo ele, os laboratórios iniciaram contato com o Datasus para enviar dados para as redes.

Os testes moleculares ou RT-PCR são feitos a partir da coleta de mucosa do nariz e da garganta e possibilitam a detecção do vírus já nos primeiros dias da doença. Já os testes rápidos (ou sorológicos), feitos a partir da coleta de sangue, detectam anticorpos – se a pessoa já teve contato com o vírus. Mas são eficientes apenas cerca de dez dias após o contato.

O projeto de Wuhan

Nos últimos dois dias, Wuhan registrou seis novos casos de contágio, os primeiros em mais de um mês. Todos são relativos a pessoas idosas que vivem na mesma residência no distrito de Dongxihu. Outros onze casos foram detectados em Shulan, na província de Jilin, o que levou a região ao “estado de guerra” contra a Covid-19.

A população de Wuhan permaneceu em lockdown por 76 dias, desde o fim de janeiro até 8 de abril. A cidade foi gravemente afetada pelo vírus, que infectou quase 83.000 pessoas e causou 4.633 mortes em toda a China, segundo dados oficiais. Somente em Wuhan, 3.869 pessoas morreram de Covid-19. A última morte causada pelo novo coronavírus no país foi registrada em meados de abril.

Para evitar uma nova onda, o governo planeja realizar testes de detecção em massa na população. Cada um dos treze distritos da cidade de 11 milhões de habitantes tem dez dias para preparar os testes, de acordo com uma circular municipal divulgada pelo The Paper, o centro estatal de notícias de Xangai. A detecção será feita com ácido nucleico, diz a circular.

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Os testes com ácido nucleico detectam o código genético do vírus e podem ser mais eficazes na detecção da contaminação, especialmente nos estágios iniciais, do que os exames que apontam a resposta imune de um corpo, mais fáceis de serem conduzidos.

Segundo especialistas, será muito difícil produzir os 11 milhões de testes em dez dias, já que a cidade vem testando em média 100.000 pessoas diariamente. Mas o governo chinês pretende mobilizar o maior contingente possível de trabalhadores da área da saúde e priorizar as áreas e bairros da cidade onde há maior concentração de idosos.

Nas primeiras semanas de surto em Wuhan, muitos moradores tiveram dificuldade de acesso ao teste devido à falta de kits. Agora, os exames estão amplamente disponíveis em todo o país.

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Muitas empresas chinesas estão fornecendo testes para seus empregados antes da retomada do trabalho. Centenas de hospitais e clínicas são capazes de testar pessoas, e os laboratórios já são capazes de processar os resultados mais rapidamente. Mesmo antes de Wuhan lançar seu plano de testes em massa, o governo já garantia a cobertura quase total dos custos de um exame em seu plano básico de seguro médico.

(Com Agência Câmara de Notícias)

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