A disputa entre Joe Biden e Donald Trump pela Casa Branca deverá abrir novas perspectivas para a relação entre Estados Unidos e México. Enquanto Trump adota pressão máxima contra a questão imigratória, Biden prometeu destinar 4 bilhões de dólares anualmente para o desenvolvimento da região fronteiriça, além de desfazer todas as políticas criadas pelo republicano. O plano democrata prevê o envio de ajuda humanitária à fronteira, revogação do acordo que obriga o México a manter imigrantes latinos retidos em seu território.
De acordo com Arturo Sarukhan, ex-embaixador do México em Washington. caso Biden vença “haverá uma redefinição completa no discurso, narrativa e engajamento” por parte do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, o AMLO. Isso porque o chefe do Executivo vinha apostando suas fichas na reeleição de Trump. Em julho deste ano, por exemplo, AMLO esteve em Washington para assinar o acordo comercial entre Canadá, Estados Unidos e México que substitui o antigo NAFTA. A cerimônia foi duramente criticada internamente, sendo encarada por analistas como uma tentativa de atrair voto latinos para Trump.
Essa relação amistosa entre os dois, por sinal, possibilitou que Trump avançasse em políticas anti-imigratórias. Ao ameaçar tarifar o comércio com o México, Trump forçou AMLO a mandar a Guarda Nacional para a fronteira, impedindo que imigrantes da América Central entrassem no território mexicano. Originalmente, a força de segurança tinha como objetivo combater o narcotráfico. Hoje, 41% dos mexicanos entrevistados acreditam que Biden será eleito presidente, contra 24% que creem na vitória de Trump. A ampla visão negativa é explicada pela retórica racista do americano, que fez da crítica ao México uma de suas principais bandeiras eleitorais. Num dos discursos durante a campanha presidencial de 2016, ele chamou os vizinhos de “estupradores” e “homens maus”. Como mostram as pesquisas, os mexicanos não esqueceram o péssimo tratamento.