Erdogan ameaça usar força militar se Assad não retirar as tropas de Idlib
Turquia deu mais 23 dias para o regime sírio frear sua operação militar; quase 400.000 pessoas já deixaram suas casas
O presidente da Turquia, Recep Erdogan, ameaçou nesta quinta-feira, 6, usar seu Exército contra as tropas leais ao presidente da Síria, Bashar Assad, caso elas não se retirem da província de Idlib até o final de fevereiro. A província é território sírio ocupado por forças rebeldes.
Em uma conversa com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, Erdogan expressou a necessidade de retirada do Exército Nacional Sírio (SAA) da região, e afirmou que, caso Assad não cumpra o ultimato até o fim de fevereiro, “seremos forçados a fazê-lo”.
A queixa do presidente turco a Putin, principal de aliado de Assad na região, ocorre ao mesmo tempo que as tropas leais ao regime sírio avançam para capturar a cidade estratégica de Saraqib, na qual as rodovias M4 e M5, que percorrem toda a província síria, se convergem.
Em Saraqib, a Turquia começou a construção de postos de observação e vem trazendo à cidade comboios de tanques, veículos de combate e soldados.
Em dois meses de avanços da SAA, 390.000 pessoas deixaram suas casas e rumaram em direção à fronteira turca, segundo a organização Médicos sem Fronteiras. A fronteira turca, porém, se encontra fechada. “Um número importante de hospitais na área foi parcial ou totalmente destruído no noroeste da Síria em apenas alguns meses”, diz Cristian Reynders, coordenador dos Médicos sem Fronteiras no norte de Idlib.
O clima de tensão entre os dois países ressurgiu depois de Assad iniciar uma operação para retomar a província de Idlib, controlada pelo Exército Livre da Síria (FSA), principal grupo armado de oposição ao regime e aliado da Turquia. Bombardeios entre a Turquia e a Síria mataram oito militares turcos, treze sírios e nove civis no inicio da semana.
Desde outubro de 2019, o Exército turco está presente dentro de território sírio. Após os Estados Unidos terem retirado suas tropas do norte do país e abandonado seus aliados curdos, que controlam quase metade do país e são vistos como grupos terroristas pela Turquia, Erdogan invadiu uma faixa territorial com o objetivo de assentar ali os cerca de três milhões refugiados que residem em seu país. O avanço só foi interrompido após a Rússia intervir e negociar um cessar-fogo em Sochi.
“Enquanto o regime responde a pequenas violações (do cessar-fogo) com ataques de armas pesadas, que também atinge civis, nós iremos retaliar o regime da mesma maneira”, ameaçou Erdogan.