O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que o historicamente reconhecido golpe militar de 1964 não foi um golpe de Estado. “Foi um movimento necessário para que o Brasil não se tornasse uma ditadura, disso não tenho a menor dúvida”, declarou o chanceler durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara dos Deputados, presidida por Eduardo Bolsonaro nesta quarta-feira, 27.
Araújo respondia a perguntas dos deputados presentes quando deu sua opinião. Alguns dos parlamentares protestaram, e o ministro reiterou sua “leitura da história” sobre a legitimidade do regime estabelecido entre 1964 e 1985. O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) insistiu em questioná-lo se o período posterior ao golpe poderia ser considerado uma ditadura. O chanceler não respondeu. Eduardo Bolsonaro tratou de rapidamente encerrar a discussão.
Araújo se alinha nessa questão ao presidente Jair Bolsonaro, que, no domingo 24, orientou os quartéis a comemorar no dia 31 de março os 55 anos do golpe, ao qual se refere como “uma data histórica”. Generais da reserva, que integram o primeiro escalão do Executivo, não endossaram as declarações e pediram cautela.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, afirmou que “o termo aí, comemoração, na esfera do militar, não é muito o caso”.
Em um governo que reúne o maior número de militares na Esplanada dos Ministérios desde o período da ditadura, a comemoração da data deixou de ser uma agenda “proibida”. Ainda que sem um decreto ou portaria para formalizá-la, o acontecimento volta ao calendário de comemorações das Forças Armadas após oito anos.
A determinação do presidente Bolsonaro gerou repúdio de órgãos ligados à defesa dos direitos do cidadão e medidas para barrar os eventos comemorativos na Justiça. Na terça-feira 26, a Defensoria Pública da União anunciou que ajuizará ação civil pública para impedir que o dia 31 de Março, data de início do movimento golpista, seja comemorado nas unidades militares.
(Com Estadão Conteúdo)