Espanha deve romper ‘pacto de silêncio’ sobre sexismo, diz ministra
Irene Montero disse que esporte espanhol é estruturalmente machista, em referência ao beijo não consensual de Luis Rubiales na jogadora Jennifer Hermoso
A ministra da Igualdade da Espanha, Irene Montero, afirmou nesta quarta-feira, 30, que o país deve romper com o “pacto de silêncio” e deixar de aceitar comportamentos machistas. Em entrevista à agência de notícias Reuters, ela disse que deseja que o beijo não consentido de Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), na jogadora Jennifer Hermoso, da seleção nacional do país e vencedora da Copa do Mundo feminina, seja um marco da luta contra o sexismo.
Sob pressão, Rubiales foi temporariamente suspenso pela Fifa e enfrenta pedidos de renúncia. Em resposta ao episódio, ocorrido em 20 de agosto, o Ministério Público espanhol abriu um inquérito para averiguar se o presidente da RFEF pode responder à acusação de agressão sexual. Caso Hermoso não entre com uma denúncia formal, a investigação será encerrada.
“A Espanha é uma sociedade feminista na qual o sexismo ainda existe, mas está determinada a acabar com o sexismo”, ressaltou Montero. “Estamos enviando a mensagem correta ao mundo, de que o sexismo acabou”.
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Além disso, a ministra disse que o esporte na Espanha é estruturalmente machista e que, ao contrário dos atletas masculinos de futebol do país, que ficaram calados sobre o incidente, os cidadãos espanhóis devem apoiar mulheres vítimas de assédio quando decidirem se pronunciar. O beijo não consentido instaurou uma crise no futebol feminino nacional, já que as jogadoras se recusaram a participar de partidas enquanto Rubiales não abandonar o cargo.
“Penso que se tornou evidente que o feminismo também é uma tarefa dos homens”, acrescentou. “Talvez fosse desejável que este pacto de silêncio fosse quebrado com mais força e contundência. Mas penso que começou a ruir e esse é um passo muito importante.”
Nos últimos anos, a questão de gênero tem tomado conta da política nacional espanhola. Dezenas de milhares de mulheres participaram em marchas de rua em protesto contra o abuso sexual e a violência, ao passo que o primeiro-ministro, Pedro Sanchez, avançou em temas como igualdade salarial e direito ao aborto por meio de reformas legais.
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A Espanha tem enfrentado, ainda, um impasse eleitoral. O conservador Partido do Povo (PP), da Espanha, conseguiu garantir o maior número de cadeiras no Parlamento após as eleições gerais de domingo 23, mas não obteve a maioria necessária para contestar o o atual governo, liderado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Espanhóis (PSOE).
Em meio à disputa interna, o debate sobre os direitos das mulheres entrou em pauta. O partido ultradireitista Vox afirmou nesta quarta-feira que o inquérito contra Rubiales é uma “caça às bruxas política” e que o “bom-senso” permite distinguir “o que é rude ou falta de educação do que é crime”.