Espanha retira medalha de Mérito Militar concedida a Pinochet em 1975
Golpe que levou à ditadura completa 50 anos nesta segunda-feira
Em meio à marca de 50 anos do golpe no Chile, o Conselho de Ministros da Espanha aprovará nesta terça-feira, 11, a retirada da condecoração Grã-Cruz do Mérito Militar concedida ao ditador chileno Augusto Pinochet em 1975. A decisão foi anunciada pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que destacou que era “hora de reparar uma injustiça histórica”.
“Há 50 anos, a democracia chilena foi vítima de um ataque brutal que abalou o mundo”, escreveu o premiê na rede social X, antigo Twitter. “Hoje, 11 de setembro, é o momento de reparar uma injustiça histórica. Amanhã o Conselho de Ministros retirará ao ditador Pinochet a Grã-Cruz do Mérito Militar, atribuída em 1975.”
Em resposta a Sánchez, o presidente chileno, Gabriel Boric, agradeceu “pela memória e pela justiça, mas sobretudo pelo futuro” para que o país “nunca mais” vivencie um golpe de Estado. Ele enviou, ainda, “um abraço fraterno” ao primeiro-ministro espanhol. Em agosto, Boric assinou, inclusive, um decreto que estabeleceu o Plano Nacional de Busca, instaurando uma força-tarefa para encontrar pessoas desaparecidas durante a ditadura chilena (1973-1990).
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Eleito democraticamente em 1970, o presidente socialista chileno Salvador Allende realizou uma série de nacionalizações e reformas radicais, desagradando a ruidosa oposição, parte da população e organizações internacionais. As decisões governamentais instauraram uma crise política do país. Três anos depois, pouco tempo depois de ter evitado uma tentativa de golpe no país, o general Pinochet destituiu Allende do cargo.
Em meio às disputas ideológicas da Guerra Fria (1947-1991), o presidente americano, Richard Nixon, desempenhou um papel central na queda da democracia no Chile. O republicano temia a possibilidade do governo socialista “consolidar-se e projetar ao mundo uma imagem de sucesso” com a eleição de Allende, como aponta um relato de Nixon ao Conselho de Segurança Nacional, em 1970.
Nos anos seguintes, a administração americana procurou enfraquecer a economia chilena e financiar a oposição. Uma vez realizado o golpe, os Estados Unidos estiveram entre os apoiadores de Pinochet nos primeiros anos de ditadura, embora as denúncias de infrações aos direitos humanos tivessem chegado aos ouvidos de funcionários de Washington.
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Entre os aliados controversos, a Espanha, também imersa em uma ditadura, foi responsável por condecorar Pinochet em Santiago, dois anos após a violenta tomada de poder. O tenente-general Emilio Villaescusa, em nome do então chefe do Estado espanhol, Francisco Franco, entregou a medalha ao chileno há 48 anos.
Na ocasião, ele definiu a honraria como “a distinção máxima do Exército de Terra em tempo de paz”, enquanto Pinochet relatou uma “emoção profunda” pelo recebimento e ressaltou que “havia estado junto à Espanha por razões de tradição, de afeto e pela América”.