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‘Esperamos que Brasil retome presença mundial’, diz embaixadora britânica

Em entrevista a VEJA, Stephanie Al-Qaq fala sobre compromissos com Brasil em assuntos climáticos e organizações internacionais

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 dez 2022, 10h52 - Publicado em 21 dez 2022, 08h00

Primeira mulher a comandar a Embaixada do Reino Unido no Brasil, em dezembro desse ano, Stephanie Al-Qaq acompanhou de perto as bruscas mudanças ideológicas na política externa brasileira e em assuntos climáticos, tendo servido antes como conselheira política.

Em entrevista a VEJA, ela tece comentários sobre as prioridades e os compromissos britânicos, a mudança de governo e o Fundo da Amazônia.

Tivemos recentemente algumas parcerias entre Brasil e Reino Unido no âmbito ambiental. Mas agora, com uma crise interna e todos os problemas energéticos na Europa em decorrência da guerra na Ucrânia, qual a prioridade do Reino Unido para a questão ambiental?

O Reino Unido está muito ligado com assuntos de Meio Ambiente e Mudança Climática, a COP foi um momento muito importante para nós. A liderança no mundo nesse assunto como um todo. Na COP fizemos um compromisso que foi dobrado, entre 11.6 bilhões de libras para esse assunto, e agora que o primeiro-ministro estava no Egito, ele se comprometeu de novo que investimentos são importantes mesmo com a situação da economia global.

O compromisso com o Brasil, então, segue inalterado? 

O compromisso no Brasil, com 300 milhões de libras também, não vai ser mudado. Mas o dinheiro público para enfrentar esse problema não vai ser suficiente. Temos que trabalhar junto para mobilizar o financiamento privado também.

Vamos continuar com nosso compromissos, mesmo com a situação que temos na economia, mas também queremos trabalhar na área de financiamento privado. Acho que o Brasil é um parceiro grande nisso, porque agora o presidente eleito fez esse compromisso. O dinheiro público é importante, mas o privado também. Temos que juntar.

Nesse âmbito, houve convites da equipe de transição do governo eleito para mais países se juntarem ao Fundo da Amazônia, incluindo o Reino Unido. Nesse momento, o que impede uma participação completa? 

Houve uma conversa em Sharm el-Sheikh entre membros da equipe de transição e nossos ministros. Estamos agora vendo a proposta e essa semana mesmo vou falar com a Noruega no Brasil, um país importante no fundo, para discutir o assunto. Realmente houve o pedido e temos o dinheiro, com o qual já fizemos vários projetos fora do Fundo da Amazônia. 

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É o início de uma conversa, porque o pedido foi feito há poucas semanas. Eu acabei de chegar, então quero saber também as políticas do governo, como podemos nos juntar com outros países. A coordenação agora é uma coisa muito importante, porque o Brasil precisa dessa ajuda e o presidente eleito está pedindo essa ajuda. 

Em um contexto mais amplo, como Londres vê a transição de governo no Brasil?

Temos muita confiança nas instituições democráticas brasileiras. Eu estive na sessão de diplomação e foi de fato uma vitória para a democracia. Temos que trabalhar com qualquer governo, porque são os brasileiros que escolhem. Mas estamos vendo agora uma oportunidade, porque estamos ligados no assunto de mudança climática e os compromissos do presidente eleito foram algo importante para nós.

A senhora pensa que isso pode ser uma volta de um protagonismo brasileiro no cenário internacional? 

Pensamos que o Brasil deveria ter um perfil mais forte no mundo exterior, como no Conselho de Segurança da ONU ou na Organização Mundial do Comércio. Então estamos esperando o Brasil retomar um pouco sua presença no cenário internacional e queremos trabalhar juntos para o G20, quando o Brasil terá a Presidência. 

O Reino Unido tem um compromisso muito forte com a África também, para troca de experiências e tecnologias. Pode ser outra área que podemos trabalhar juntos com o Brasil. O Brasil tem tantas pesquisas interessantes, de ciência e inovação, parceiros que tivemos na área da Saúde durante o auge da Covid. Quase metade dos brasileiros tem a vacina de Oxford, temos uma parceria para pesquisas sobre malária e dengue. Temos muitas áreas que podemos aprofundar.

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Nosso ministro nas Relações Exteriores fez uma palestra sobre a visão dele sobre Política Externa, e é bem próxima com a minha. Ele acha que temos que aprofundar muito a relação com o Brasil e outros países como a Índia e a Indonésia. Nosso governo tem muita ambição para relações internacionais.

Dentro dessa questão do apagamento da imagem internacional do Brasil, houve um episódio do governo de Jair Bolsonaro visto por muitos analistas como constrangedor, durante o funeral da rainha Elizabeth II. Como isso repercutiu dentro do governo britânico? 

A repercussão foi pior aqui no Brasil do que lá. Lá, foi realmente uma honra trabalhar no funeral, foi um momento muito importante para nós. Eu só ouvi o que aconteceu depois, porque a concentração foi o funeral, completar tudo do jeito que ela desejava, era o foco. 

No Buckingham Palace, a recepção de líderes e funeral, era um momento para todos os líderes prestarem suas homenagens e respeitos. Eu vi o presidente Bolsonaro lá, ele falou com o rei Charles III, prestou sua homenagem. Talvez tenha sido um mais por aqui a repercussão. 

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A rainha fez uma única viagem ao Brasil, em 1968, quando foi tirada a clássica foto com Pelé. Há algo planejado para o rei Charles? 

Ele já veio várias vezes. Agora, como rei, acho que ele tem um interesse enorme no Brasil. 

Eu fiz a primeira audiência com ele como rei, como embaixadora no Brasil, e ele tem um interesse muito grande. Falamos do compromisso do presidente eleito Lula, então vamos ver. Mas acho que será difícil ele não vir para cá. É um momento muito importante para o país, então espero que sim. 

A senhora irá comparecer à posse do presidente eleito Lula. Alguém do alto escalão do governo virá?

A enviada será Thérèse Coffey, ministra para assuntos de meio ambiente e agricultura, que já se encontrou com autoridades brasileiras no Egito.

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