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Está chovendo emprego: as vagas ressurgem nas nações mais ricas

Com a reabertura da economia, depois de um ano e meio de freada, as empresas têm novas oportunidades. Mas muita gente parece não ter pressa em ocupá-las

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 12h46 - Publicado em 18 set 2021, 08h00

A porção mais rica do planeta vive às voltas com uma situação impensável até uns meses atrás, quando o novo coronavírus travou as engrenagens da economia e o mundo deu uma assustadora parada. Pois bem, agora estão sobrando vagas no mercado de trabalho. O último balanço nos Estados Unidos aponta para 10 milhões de postos à espera de candidatos, cenário que se reproduz em graus variados na Europa e em países como Canadá e Austrália. Uma explicação é que economias desenvolvidas são altamente dependentes de imigrantes, impossibilitados de cruzar distâncias em meio à crise pandêmica, mas essa é apenas uma face de um fenômeno repleto de camadas.

Afetadas pela chacoalhada sem precedentes nos modos e costumes do planeta, as pessoas foram morar em outros lugares, mudaram o jeito de estudar e trabalhar e agora tendem a abraçar uma mentalidade empacotada na sigla em inglês Yolo — You Only Live Once, o que significa, em bom português, que só se vive uma vez, e o recomendado é aproveitar da melhor maneira possível. “O imenso número de vagas abertas, sem interessados, mostra, entre outras coisas, que a percepção sobre o mundo do trabalho se transformou e os países levarão um tempo para se reequilibrar sob a nova lógica”, avalia a economista Erica Groshen, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos.

Um mergulho nas razões alegadas para a esticada na folga mostra que uma parcela da mão de obra ainda reflete sobre dar uma guinada na vida e prefere não pegar emprego nenhum no momento. Um levantamento recente encomendado pela Microsoft — que como outras empresas anda preocupada com a falta de quadros — revela que 40% dos entrevistados se encaixam nesse rol. No mesmo contexto de reavaliação de carreira, tem sido comum entre os baby boomers, nascidos depois da II Guerra, que de baby não têm mais nada, resolver se aposentar e pronto. No ano passado, o número disparou 200% em relação aos tempos ditos normais. E tem mais: segundo a Secretaria Federal de Estatísticas do Trabalho, 4 milhões de americanos pedem para sair a cada mês. A boa notícia é que muitos passam para o outro lado do balcão e a abertura de novos negócios vem ocorrendo em velocidade recorde. “Os trabalhadores estão repensando seu futuro”, diz o economista Jason Furman, da Universidade Harvard.

SOSSEGO - Biden: programa de ajuda adia busca de trabalho -
SOSSEGO - Biden: programa de ajuda adia busca de trabalho – (Patrick Semansky/AP/Image Plus)

Os sinais de vigor emitidos pelo mercado de trabalho nas nações do primeiro mundo não significam que o setor saiu do abismo ao qual foi empurrado pela pandemia. O nível de desemprego, em geral, segue acima das médias tradicionais: está em 5,2% nos Estados Unidos, ante os habituais 3,5%, e em 6,9% na União Europeia, ainda ligeiramente superior aos 6,7% de 2019. Nem todas as empresas retomaram plenamente as atividades — cerca de 30% das vagas permanecem fechadas e os funcionários, amparados pela ajuda financeira do governo (que acabou no início de setembro), preferem aguardar para ter sua função original de volta. Outro fator para o desemprego é o fato de muitas mães não terem conseguido se reintegrar ao mercado porque as escolas continuavam fechadas (agora reabriram) e não tinham com quem deixar os filhos. Tem impacto ainda na situação o medo do contágio do novo coronavírus, forte em parte da população ativa.

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Mas o que mais preocupa os negócios com vagas em aberto e falta de candidatos para preenchê-las é mesmo o tal efeito Yolo, que tem instigado profissionais qualificados a se mudar para longe dos centros produtivos e levado os provedores de serviços, principalmente, a perceber a falta que fazem. “Paguem ao menos 15 dólares a hora para seus funcionários ou vocês estarão em apuros”, disparou o presidente Joe Biden, sugerindo que empresários ofereçam o salário mínimo adotado pelo governo federal. Sem mão de obra, as empresas vão à luta. A Amazon acaba de anunciar um piso salarial 20% mais alto para os 125 000 funcionários que planeja contratar até o fim do ano e bônus de 3 000 dólares para quem se destacar. Franquias do McDonald’s acenam com iPhones de presente aos recém-chegados. A varejista Target ajuda a quitar os gastos com a universidade dos filhos de seus contratados. A Spherion Staffing, empresa de serviços administrativos, de julho a setembro sorteou 150 prêmios entre os empregados, incluindo alguns Mustangs zero-quilômetro. Outra saída para a debandada é os setores mais afetados, como a indústria automobilística, empreenderem treinamento a novos contratados e incentivo de troca de carreiras aos já existentes, um processo custoso e demorado. Pelo jeito, o excep­cio­nal poder de barganha adqui­rido pelos trabalhadores dos países ricos vai durar um bom tempo.

Publicado em VEJA de 22 de setembro de 2021, edição nº 2756

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