O governo central da Etiópia declarou nesta terça-feira, 2, estado de emergência nacional, devido aos confrontos na região do Tigré, após forças insurgentes declararem que estão ganhando território e considerando marchar para a capital, Adis Abeba. O anúncio ocorre dois dias depois de o primeiro-ministro Abiy Ahmed pedir que cidadãos peguem em armas para se defenderem da Frente Popular de Libertação do Tigré (FPLT), que luta há um ano contra o governo federal.
O estado de emergência restringe a realização de protestos e proíbe a disseminação de informação ou propaganda de apoio a grupos considerados terroristas, como os rebeldes do Tigré. Além disso, é proibido o porte de armas por pessoas que não estejam autorizadas pelas autoridades nacionais.
Por essa razão, autoridades da capital etíope pediram na manhã desta terça-feira para cidadãos registrarem suas armas e se prepararem para cooperar com forças da segurança para defender suas vizinhanças.
“Todos os residentes devem organizar-se em blocos e bairros para proteger a paz e a segurança nas suas áreas, em coordenação com as forças de segurança”, disse o chefe do departamento de paz e segurança, Kenea Yadeta. “Os jovens da cidade serão recrutados e organizados para trabalhar em coordenação com as forças de segurança”.
No domingo, 31 o primeiro-ministro já havia pedido para todos colocarem de lado os assuntos cotidianos para poderem se unir e organizar para lutar contra a FPLT, que dominou a política etíope por quase 30 anos, mas perdeu boa parte de sua influência em 2018, com a eleição do atual premiê.
Avanços da FPLT
A medida desta terça-feira veio por ordem do Conselho de Ministros do país e, segundo o ministro da Justiça, Gedion Timotios, tem objetivo de conseguir conter as forças rebeldes da região e evitar a desintegração do país.
“Nosso país enfrenta uma grave ameaça a sua existência, soberania e unidade. E não podemos dissipar esta ameaça através dos atuais sistemas e procedimentos de aplicação da lei”, afirmou.
O ministro também afirmou que quem violar as medidas pode enfrentar de três a 10 anos de prisão, por ofensas como apoio financeiro, material ou moral a “grupos terroristas”.
Nos últimos dias, a FPLT, partido que governa a região desde novembro do ano passado, anunciou a tomada das cidades de Dessie e Kombolcha, ambas situadas em Amhara e localizadas a menos de 400 quilômetros de Adis Abeba.
A ofensiva rebelde realizada em Amhara aconteceu depois de vários dias de bombardeios contra Mekele, capital do Tigré, e outras áreas da região, realizados pelo governo da Etiópia e aliados.
A guerra entre a FPLT e o Executivo central etíope eclodiu em 4 de novembro do ano passado, quando o primeiro-ministro do país ordenou uma ofensiva contra os insurgentes, em represália a um ataque contra uma base militar federal, e enviou tropas para o Tigré.
Desde então, houve uma escalada na tensão política e uma onda de protestos, com o registro de milhares de mortos e milhões de deslocados na região do Tigré. Mais de 2,5 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas e cerca de 75.000 etíopes já fugiram para o Sudão.
Segundo a Organização das Nações Unidas, o cenário criou uma situação de fome e insegurança alimentar para centenas de milhares de pessoas.
Junto a isso, a Etiópia viveu mais de duas décadas de guerra com a Eritreia. Estima-se que cerca de 100 mil pessoas tenham morrido em disputas fronteiriças desde 1998. Para alcançar a paz na região, a Etiópia cedeu um território ao país vizinho, em uma das primeiras medidas de Ahmed como premiê, após assumir o cargo em abril de 2018.