EUA e Israel discutem possível controle americano sobre Gaza, diz agência
Consultas giraram em torno de um governo de transição comandado por uma autoridade americana, segundo Reuters

Autoridades dos Estados Unidos e de Israel discutiram a possibilidade de Washington comandar um governo temporário pós-guerra para Gaza, de acordo com cinco pessoas familiares, relatou a agência de notícias Reuters nesta terça-feira, 7.
As consultas giraram em torno de um governo de transição comandado por uma autoridade americana, que ficaria no posto até desmilitarização e estabilização de Gaza, incluindo um governo palestino “viável”, segundo as fontes ouvidas pela Reuters.
As fontes, que falaram sob condição de anonimato por não estarem autorizadas a discutir as negociações publicamente, compararam a proposta à Autoridade Provisória da Coalizão no Iraque, que Washington estabeleceu em 2003, logo após a invasão liderada pelos EUA que derrubou Saddam Hussein.
Mais cedo neste ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que Washington deveria “assumir” a Faixa de Gaza e realocar os palestinos em outros países.
“Em vez de (os palestinos) voltarem e reconstruírem (Gaza), os Estados Unidos vão assumir e fazer algo com ela. Vamos tomar conta”, declarou Trump. Ele também mencionou que Washington poderia buscar “pedaços de terra” para reassentar os palestinos em países vizinhos.
A proposta foi rapidamente condenada pela comunidade internacional. Países como França, Espanha, Reino Unido e Rússia se posicionaram contra a medida e condenaram qualquer tentativa de retirada forçada dos palestinos de suas terras. Em resposta, o Escritório de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, afirmou que “qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de território ocupado é estritamente proibida”.
Em pronunciamento, o órgão enfatizou a importância de avançar para a próxima fase da trégua na guerra entre Israel e Hamas, visando a libertação de todos os reféns e prisioneiros detidos arbitrariamente, o fim do conflito e a reconstrução de Gaza, com pleno respeito ao direito humanitário internacional.
Na terça-feira, 6, o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou que a Faixa de Gaza será “totalmente destruída” e que os palestinos serão deslocados “em grande número para terceiros países”. A declaração ocorre um dia após o gabinete de segurança do país aprovar um plano para a Operação Carruagens de Gideão, que prevê “a conquista” e “a manutenção dos territórios”.
“Gaza será totalmente destruída, os civis serão enviados para o sul, para uma zona humanitária sem Hamas ou terrorismo, e de lá começarão a sair em grande número para terceiros países”, disse Smotrich durante uma conferência sobre assentamentos judaicos na Cisjordânia.
Quase 2 milhões de palestinos foram deslocados e mais de 51 mil foram mortos desde o início da guerra entre Israel e o grupo palestino radical Hamas, em outubro de 2023. Grupos de direitos humanos dizem que deslocar pessoas à força é um crime de guerra em potencial e um crime contra a humanidade — esse último corresponde a “violações graves cometidas como parte de um ataque em larga escala contra qualquer população civil”, incluindo deportação, segundo o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia.
Egito e Jordânia se recusam a aceitar o êxodo da população de Gaza para os seus territórios, já que a permissão atestaria cumplicidade com o crime de limpeza étnica. Por sua vez, a Corte Internacional de Justiça (ICJ), das Nações Unidas, analisa acusações de genocídio contra Israel. No ano passado, o tribunal ordenou que o governo israelense “tomasse todas as medidas” para prevenir e punir incitações de genocídio, além de demandar que Tel Aviv permita o “fornecimento irrestrito” de ajuda humanitária ao enclave palestino através da fronteira com o Egito.