Trabalhadores do depósito militar de Blue Grass, no estado americano do Kentucky, estão destruindo as últimas armas químicas dos Estados Unidos, dando fim ao último arsenal oficialmente conhecido no mundo. A iniciativa conclui uma campanha de décadas para eliminar um estoque que, no final da Guerra Fria, totalizava mais de 30 mil toneladas.
O país tem até 30 de setembro para eliminar suas armas químicas restantes sob a Convenção Internacional de Armas Químicas, que entrou em vigor em 1997 e foi acompanhada por 193 países. As munições que estão sendo destruídas em Kentucky são as últimas dos 51 mil foguetes M55 com agente nervoso GB, uma toxina mortal também conhecida como “sarin”, que foram armazenados no depósito desde a década de 1940.
Especialistas militares afirmam que ao destruir as munições, os EUA estão oficialmente ressaltando que esses tipos de armas não são mais aceitáveis no campo de batalha e enviando uma mensagem aos poucos países que não aderiram ao acordo.
“Uma coisa da qual estamos muito orgulhosos é como estamos terminando a missão. Estamos terminando de vez para os Estados Unidos da América”, disse Kim Jackson, gerente da Planta Piloto de Destruição de Agentes Químicos de Pueblo.
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As armas químicas foram usadas pela primeira vez na Primeira Guerra Mundial, e podem ter matado menos 100 mil pessoas. Apesar de posteriormente terem sido banidas pela Convenção de Genebra, em 1925, os países continuaram a estocar as armas até que o tratado determinasse sua destruição.
Recentemente, foi concluída uma missão iniciada em 2016 de destruição das armas no sul do Colorado. Ao todo, foi neutralizado um estoque de cerca 2.600 toneladas de agente de bolhas de mostarda. Os projéteis e morteiros representavam cerca de 8,5% do estoque original de armas químicas do país, de 30.610 toneladas de agente.
A destruição das armas alivia uma preocupação de líderes do Colorado e do Kentucky, que admitem que as armas sempre estavam no fundo de suas mentes.
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Na década de 1980, a comunidade em torno do depósito em Kentucky se opôs ao plano inicial do Exército de incinerar as 520 toneladas de armas químicas da fábrica, levando a uma batalha de décadas sobre como elas seriam descartadas. Eles conseguiram interromper a usina de incineração planejada e, com a ajuda dos legisladores, levaram o Exército a apresentar métodos alternativos para queimar as armas.
O Exército planejava queimar os estoques em um local adjacente a grandes cidades do estado, como Richmond e Lexington. Os ativistas observaram que os militares eliminaram a maior parte de seu estoque existente queimando armas em outros locais mais remotos.
“Tínhamos uma escola de ensino médio com mais de 600 crianças a dois quilômetros de distância da (planejada) chaminé”, disse Craig Williams, que se tornou a principal voz da oposição da comunidade.
Desde a década de 1940, a instalação de armazenamento de Kentucky abriga o agente mostarda e os agentes nervosos VX e sarin, muitos deles dentro de foguetes e outros projéteis. A usina de descarte do estado foi concluída em 2015 e começou a destruir armas em 2019. Ela usa um processo de neutralização para diluir os agentes mortais para que possam ser descartados com segurança.
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Kingston Reif, secretário assistente de Defesa dos EUA para redução de ameaças e controle de armas, disse que a destruição da última arma química dos EUA “vai encerrar um capítulo importante na história militar, mas que estamos ansiosos para encerrar”. Reif observou que ainda existe a preocupação de que algumas partes da convenção, particularmente a Rússia e a Síria, possuam estoques de armas químicas não declarados.
Apenas Egito, Coreia do Norte e Sudão do Sul não assinaram a Convenção de Armas Químicas. Embora tenha assinado, Israel ainda não ratificou o tratado. Defensores do controle de armas esperam que essa etapa final dos EUA possa levar os demais países a aderir e que o modelo americano seja um exemplo de como eliminar outros tipos de armas.
“Isso mostra que os países podem realmente banir uma arma de destruição em massa”, disse Paul F. Walker, vice-presidente da Associação de Controle de Armas e coordenador da Coalizão da Convenção de Armas Químicas. “Se eles quiserem fazer isso, basta ter vontade política e um bom sistema de verificação.”