As Forças Armadas dos Estados Unidos transferiram para julgamento no Iraque pelo menos trinta combatentes estrangeiros do Estado Islâmico, capturados na Síria, de acordo com entrevistas com os suspeitos, fontes iraquianas e documentos judiciais.
Entre os suspeitos, transferidos em sigilo, três já foram condenados à morte pelos tribunais iraquianos. Outros cinco receberam penas de prisão perpétua por sua filiação com o grupo jihadista. Quatro desses réus ainda disseram ter sido torturados na prisão, apesar da ausência de laudos que comprovem a denúncia.
O Serviço de Contraterrorismo do Iraque (CTS) negou que os presos sob sua custódia foram transferidos da Síria em 2017 e 2018 e refutou as alegações de tortura dos detidos.
Mas, segundo autos do próprio governo iraquiano, os trinta estrangeiros acusados de terrorismo foram levados ao país depois de serem capturados pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), uma aliança de milícias da minoria curda aliada aos Estados Unidos na guerra civil.
O Comando Central dos militares americanos, responsável por supervisionar as operações das Forças Armadas no Oriente Médio, não quis comentar as descobertas. Mas reconheceu sua intromissão no caso dos detidos capturados pelas milícias curdas, cuja autoridade não é reconhecida internacionalmente.
“A questão dos combatentes terroristas estrangeiros sob custódia das FDS na Síria é um problema extremamente complexo”, disse seu porta-voz, o capitão Bill Urban.
Pressão de Trump
Oito homens da Bélgica, França, Alemanha, Austrália, Egito e Marrocos serviram de testemunhas da reportagem e foram entrevistados por jornalistas antes de comparecerem perante as cortes iraquianas. Todos foram condenados por seu envolvimento com o Estado Islâmico.
Segundo eles, depois de serem capturados na Síria pelas forças das FDS, todos foram submetidos a interrogatórios pelos curdos e por soldados americanos sobre a sua participação no Estado Islâmico. O grupo afirmou ter sido mantido em solitárias nas bases militares dos Estados Unidos na região do Curdistão iraquiano e na Jordânia, antes de ser entregue à custódia do Iraque.
O presidente Donald Trump está pressionando abertamente as nações europeias para a repatriação de mais de 800 presos que estão entre os mais de 2.000 combatentes estrangeiros do Estado Islâmico, capturados durante as batalhas finais para destruir o autodeclarado califado do grupo na Síria, no início deste ano.
Os Estados Unidos querem que os países de origem dos jihadistas estrangeiros assumam a responsabilidade por eles e adotem “processos, programas de reabilitação ou outras medidas que impeçam que os detidos voltem a se envolver com o terrorismo”, disse ele, tentando se esquivar das condenações severas atribuídas aos combatentes.