Os Estados Unidos instaram o regime de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana a iniciar negociações para uma “transição pacífica” em direção à democracia na noite de segunda-feira, 5, além de tornarem a reconhecer a vitória de Edmundo González Urrutia, autodeclarado presidente, contra o ditador nas eleições na Venezuela.
“Continuamos a instar as partes venezuelanas a iniciar conversas sobre uma transição pacífica de regresso às normas democráticas”, disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, a jornalistas, o que o regime venezuelano denunciou como “evidência” de que a Casa Branca “está na vanguarda” da uma tentativa de golpe de Estado.
“Continuamos a apelar pela transparência e pela publicação de contagens detalhadas de votos, embora admitamos que já se passou mais de uma semana desde a eleição e que a publicação desses votos exigiria um escrutínio atento, dado o potencial de manipulação nesse período de tempo”, Miller acrescentou.
Resultados contestados
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado pelo chavismo, proclamou Maduro reeleito com 52% dos votos, contra 43% do candidato González.
Mas a oposição, liderada pela política inabilitada María Corina Machado, acusou fraude e publicou num portal on-line cópias dos registos de votação – aqueles que o CNE evitou mostrar – que dão a González uma grande vitória, com 67% de apoio, contra 30% para Maduro.
Até agora, o órgão eleitoral não divulgou os resultados detalhados das eleições, desagregados por mesa de votação, apesar da pressão internacional e de essa etapa ser exigida pela própria lei venezuelana.
“Se olharmos para as contagens que a oposição divulgou, fica claro que, mesmo que todos os votos pendentes (cópias de atas às quais a oposição não teve acesso) fossem a favor de Maduro, não seriam suficientes para superar a liderança de Edmundo González”, garantiu Miller.
Reação do regime Maduro
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela disse em um comunicado que “é inédito” que os Estados Unidos “tencionem impor um novo governo fantoche na Venezuela, à imagem e semelhança de sua estratégia fracassada de 2019”, referindo-se ao apoio que Washington deu a Juan Guaidó. Na época líder oposicionista, ele se autoproclamou “presidente interino” numa tentativa fracassada de tirar Maduro do poder. Hoje, Guaidó vive exilado na Flórida.
Na semana passada, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, aceitou como válidos os dados apresentados pela oposição que comprovariam a vitória de González. Ele descreveu as evidências como “esmagadoras”.
Tirar Maduro do poder, porém, não é trivial, já que ele controla todas as instituições governamentais e as Forças Armadas. Na segunda-feira, a oposição apelou para que a polícia e os militares fiquem “do lado do povo” em vez de continuarem a apoiar o governo e que parem de “reprimir” protestos legítimos, o que rendeu a Corina e González a abertura de uma investigação por alegada “instigação à insurreição”.
Em comunicado, a Procuradoria-Geral acusou os dirigentes da oposição de usurpação de funções, divulgação de informações falsas, instigação à desobediência e insurreição e associação para a prática de um crime.